terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

História dos Três Shougais (Parte da Amaterasu)

A casa da família Shougai era rústica, por assim dizer. Pequena demais para três pessoas. Alguns poucos passos levavam da cozinha (que ficava juntada área de serviço) e ia direto para o quarto, passando pela sala e banheiro. A sala de estar era como se fosse o centro da casa, então e haviam poucas mobílias para preenche-la. Não que esse estilo de vida fosse ruim, de um certo ângulo, era até melhor, pois assim havia mais o envolvimento familiar. Toda noite era como se o pai das duas garotas brincasse com elas desde sua chegada do trabalho (que era tarde e se revezavam em uma ficar acordada num dia e outra noutro para aguardá-lo).

Durante o nascimento de Amaterasu, assim como o deus de fogo que queimou o ventre de sua geradora na mitologia japonesa, o corpo da mãe não conseguiu suportar e morreu ali. O assunto era desviado quando a pequena surgia com perguntas, mesmo que sempre lhe respondessem que era uma mulher maravilhosa em vida e não se prolongava mais. Não os culpava, afinal, era a única com a qual não conseguiu ter alguma lembrança com a mulher e ocasionalmente, um sentimento vazio se formulou, como se algo faltasse, mas não necessariamente.

O pai delas tinha três empregos, um de manhã até de tarde e outro que seguia rumo até o começo da madrugada. O terceiro era repartido entre os intervalos e folgas que conseguia. Por mais que se esforçasse de tal maneira, nunca deixou aparecer para as duas que o aguardavam em casa a doença que o corroía dia após dia, sem cessar. Suas dívidas também se acumulavam, afinal, a menor não teve o sustento do leite materno e precisava de algumas especiarias diferentes em suas refeições, que por mais que a maioria fosse ignorada por dificuldades financeiras, era feito o possível para que pudesse crescer firme e forte.

Com quatro anos, acordou de madrugada enquanto dormia no sofá surrado da sala abraçada em Tsukihime (possivelmente o homem chegou em casa e não quis acordá-las, deixando-as descansar ali). Caminhou sem fazer barulho – mais por sono do que de propósito – e vendo a luz acesa do quarto, aproximou-se e abriu levemente a porta, que não fez qualquer tipo de sonoridade que fizesse com que o pai delas voltasse seus olhos para a menor.

Ele chorava em silencio, soluçava em agonia enquanto segurava alguma coisa. Sempre era um homem brincalhão, por mais que tivesse grossas olheiras e eventualmente reclamasse de dores e cansaços, logo após fazia uma careta ou dava um comentário humorístico como “quando ficar velho serei caduco” e as divertia, não deixando que seus problemas englobasse suas filhas. Ficou algum tempo olhando-o naquele estado digno de pena, mas para ela, não sabia como reagir, logo retornou até o sofá com passos ligeiros, que certamente o alertaram. Acordou a irmã e disse para ela que o pai não parecia bem. A mais velha acendeu a luz e abriu a porta do quarto com batidas gentis, mas ele estava com um relógio na mão, pálido e os olhos meio inchados. Perguntou o houve, como se ambas estivessem procurando abrigo para seus pesadelos não retornarem. Negou que estava triste, somente cansado, aliás, estava até colocando o despertador. Pegou Amaterasu no colo e a deitou na cama, abraçou e beijou Tsukihime e colocou-a do lado, tapando-as logo em seguida e apagando a luz do quarto, agora era ele quem iria dormir no sofá. Foi difícil pegar no sono depois.

Alguns meses se passaram, as dificuldades sempre as mesmas, ou piorando um pouco. Houveram propostas melhores de trabalho para o homem, mas foram recusadas pois teria de desistir de viver por ali e se aventurar em algum lugar desconhecido com o pouco que tinha, seria loucura, ainda mais com uma filha com saúde fraca e a sua própria que já era debilitada. O que fez com que houvesse uma reviravolta na história dos três é o fato de após alguns exames terem sido adiados ou cancelados por causa do incessante trabalho, o homem fora levado às pressas ao hospital após cair no chão e não mais conseguir se mover enquanto sua boca enchia-se de sangue, causando pânico nas duas.

No hospital, ele fora internado e os médicos e manipuladores de cristais de cura fizeram o possível para estabilizá-lo, ao menos para falar com suas filhas que aguardavam por algum sinal dele. Horas passaram-se. Um médico, um homem alto e de cabeça lisa aproximou-se das duas e pediu para que o acompanhasse a pedido de seu pai. Elas iriam ficar num orfanato, já que com as posses do homem em conjunto com sua instabilidade seria impossível que elas ficassem sozinhas naquela casa. Não fora possível vê-lo e assim mesmo o próprio médico ajudou-as na mudança (apressada, mas era um adulto e isso facilitava algumas coisas).

Era próximo das quatro da manhã quando ele pediu por ajuda num orfanato grande e de bom nome. Uma senhora com alguns cabelos brancos relutou em abrir a porta, demorando um pouco a ponto do homem ter de bater na porta mais duas vezes. Aquela mulher tinha um semblante cansado que era um tanto quanto familiar, mas ela olhou-as e logo disse que faria o melhor pelas duas. Levou-as para dentro e deu um pouco de leite morno para cada enquanto conversava com o médico sobre a estada de ambas ali. Enquanto ambos conversavam as partes “de gente grande”, algumas crianças acordaram e desciam as escadas para ver os novos integrantes daquele círculo. Amaterasu ficava intimidada na volta de sua irmã, era pequena ainda e tinha vergonha de olhares.

Logo o homem disse que faria o melhor por elas e se despediu ali, indo embora e deixando-as. O sentimento de estar fora de seu local de origem fora súbito, perturbando a pequena que, graças ao cansaço conseguiu dormir, mesmo que em condições normais não conseguiria.

Três meses passaram desde o incidente, onde eles recebiam ajuda do médico para a alimentação da mais nova, mas logo o contato com ele diminuiu. Toda vez que batiam na porta do orfanato o coração de Amaterasu se apertava e agitava o corpo, pois aguardava por notícias de seu pai. Mais seis meses se passaram e nenhum sinal, sua irmã possivelmente temia pelo pior, mas não falava.

Toda noite que a mais nova não conseguia dormir de preocupação, Tsukihime descia as escadas na ponta dos pés junto dela e iam até o cômodo onde havia diversas coisas para prender a atenção dela e das outras crianças que por ali estavam. Desde brinquedos até uma grande televisão. Mas o real objetivo da irmã mais velha era um piano marrom que ocupava um bom espaço e estava cheio de desenhos em sua extensão. A caçula sentava-se no carpete do chão, puxando-o para perto da irmã e ali deitava-se com alguns bichinhos de pelúcia que tinha pela sala, assim como enrolava-se num cobertor velho que tinha por ali, deitando no braço enquanto observava a mais velha que esperava ela se ajeitar para então começar a tocar quando houvesse o silêncio total, nem um movimento era permitido, pois isso geraria barulho da coberta e era desagradável. Os delicados dedos da garota, que tanto se esforçou para aprender apenas ouvindo as notas passavam vagarosos, mas compunham músicas maravilhosos de forma que a fazia esquecer dos problemas. Mesmo que fosse tarde da noite, ambas faziam isso secretamente, tomando o cuidado para ter todas as portas fechadas a fim de não escapar um único som para os que dormiam.

Dois anos se passaram e certo dia, na espera do médico, Amaterasu estava sentada perto da janela com um cavalinho de madeira na mão, fazendo-o cavalgar pela extensão do vidro e depois permitindo o dom do voo a ele. Brincava sozinha enquanto observava o movimento lá fora. Estava quase se entediando quando ouviu batidas na porta. Correu para chamar a velhinha que apressava-se em acalmá-la e ir atender. Fora atrás, apenas cuidando quem seria. Abrindo a porta, avistou um rapaz, cara emburrada e cabelo espetado, parecia o típico que iria querer uma briga. Estava bem acabado para alguém que chegou ali sozinho e logo levaram-no para um quarto no segundo andar. Haviam outras camas, pois ali era onde a maioria dormia, já que ali não tinha uma enfermaria própria.

A velhinha que cuidava de todos aparecera com diversos medicamentos e passava nas feridas do garoto, que tinha muitos ferimentos marcantes de quem vive na rua. Amaterasu, por outro lado, apenas o via-o com curiosidade, pois mesmo que o tivesse “resgatado”, não sabia se deveria acordá-lo ou ajudar em sua recuperação, até que a mulher falou em alimentá-lo. Sua comida era horrível, mas a coitada se esforçava em fazer algo para todos ali que ficasse em igualdade e não fosse caro. Desceu até a cozinha e ajudou-a, não queria causar problemas e aquele garoto possivelmente era uma forma mais interessante de se passar o dia do que meramente ficar debruçada na janela esperando pelo médico.

Subiram as duas para atende-lo e ele acordava quase que instantaneamente ao sentir o cheiro da comida que era um tanto mal feita, mas comestível. Havia um pedaço de pão junto com um pouco de arroz e peixe, assim como era acompanhado de um caneco de suco de uva. Amaterasu carregava o caneco em uma mão e o cavalinho de madeira na outra, enquanto a senhora carregava o resto. Vendo o garoto sentando na cama, a velhinha entregou para ele a comida em conjunto dos talheres que carregava em seu bolso de avental, e assim que ele tinha em mãos, a pequena olhou-o com a expressão sutil, entregando a ele o caneco e observando cada movimento feito. Deixou o cavalinho ao lado do travesseiro dele e correu escada abaixo, a fim de juntar-se a sua irmã.

Aos poucos que ajudava na cozinha fora aprendendo a manipular melhor os instrumentos e fazer com que os sabores fossem mais distinguíveis e apreciativos. Talvez por ser jovem e ter um cérebro ainda se preparando a fez aprender com facilidade e aprendeu fácil como melhorar o cardápio do orfanato, melhorando assim o estilo de vida de seus residentes, que aos poucos fora perdida a necessidade da mulher em se ocupar sozinha da casa inteira, desde a faxina até o supervisionar.

Quando o garoto já estava melhor, ele tornou-se mais um dos residentes dali e vez ou outra a garota vinha para brincar com ele. Era um pouco tímida para falar, mas ousada em atitudes, pois sempre o puxava pela roupa para disputar uma corrida ou jogava água nele com as palmas da mão (afinal, não queria ser impertinente) e saia correndo – como o físico dele era mais desenvolvido, normalmente corria em direção de Tsukihime, sendo ela era o seu porto seguro.

Ocasionalmente ele se tornou um grande amigo das duas. Certa vez, na parte da noite em que estavam levemente cansados, conversaram fracamente, sussurrando no meio do escuro, tentando não acordar aos outros, mas fazendo o tempo passar até que se cansassem. Após alguns assuntos aleatórios, acabaram por contarem o porque de estarem ali e com isso, elas contaram que eram temporárias, pelo menos até o pai melhorar, Amaterasu fora a mais empolgada em contar pela primeira vez o porque de esperar pelo médico todo santo dia, mesmo que para Tsukihime isso fosse mais difícil de aceitar. Com alguma relutância, ele acabou por contar e com isso, a pequena prontamente falou que se fosse por causa de atenção que ele estava ali, então era justo que o trio fossem irmãos. Não de sangue, mas de um relacionamento que fosse além de fatores escolhidos pela sociedade, possivelmente algo que somente a inocência daquelas crianças era possível em aceitar.

Em um dia de pleno mau humor por não acontecer do médico aparecer após muito esperar, Amaterasu birrou de que iria até o hospital procura-lo, temendo o pior, Tsukihime a deteu e pela primeira vez as duas brigaram seriamente. Sempre foram irmãs que brigavam por bobagem e que logo se entendiam novamente, nunca ficando realmente brabas uma com a outra, mas dessa vez seria imprudente sua ida sem companhia e mesmo que fosse lá, talvez compreendesse o porque daquele homem nunca mais aparecer. Nesse mesmo dia, após algumas palavras impensadas, na frente de todos, ela acabou por compreender a gravidade das coisas, mas sem antes relutar na ilusão, chamando sua irmã de mentirosa e fugindo dali, envergonhada e nervosa. “Escondeu-se” embaixo dos cobertores enquanto sentia a agonia das palavras proferidas por ambas, relembrando cada cena e tentando tirar da mente que seu pai não mais viria busca-las. A mentirosa verdadeira daquela história era a própria caçula que teimava no improvável.

Acabou por dormir após exaustão emocional e acordou somente à noite para jantar um pouco de salada de tomate, enquanto mastigava lentamente olhando os pedaços cortados em sua frente e ignorava aos outros em sua volta. Assim que se estufou (não conseguindo comer mais, pois ainda estava amargurada), retornou ao quarto para dormir, pois sentia um cansaço inexplicável.

No outro dia fora pedir desculpas para a velhinha e além disso, um favor: que ela fosse perguntar se Tsukihime ainda queria brincar com ela. A raiva já tinha passado, agora só sobrava o remorso por seus rudes atos. Fora aceita de bom grado por parte da mais velha que sempre fora mais calma, sábia e paciente. Nunca mais aguardou pela presença do homem de jaleco branco e que, como já se era esperado, também jamais tornou a colocar os pés naquele lugar novamente.

Com dez anos, fora formulado um grupo de pessoas que ouviram que haviam uma prodígia da música naquele lugar e muitos iam lá, ouviam as músicas de Tsukihime no piano e sempre choravam de emoção diante de tanta beleza em diversos sentidos em uma garota de apenas doze anos. Muitos se ofereceram em leva-la para casa, tanto por egoísmo e ganância graças a habilidade que renderia muito dinheiro, quanto pelo simples fato de acharem-na digna de morar com eles, formulando uma nova família. Se negava, pois queria ir junto de Amaterasu, mas poucas pessoas tem possibilidade de sustentar duas crianças, ainda mais que a mais nova seria somente um fardo pois de nada tinha talentos que a levassem a brilhar em revistas ou programas de entretenimento.

Grupos formavam-se cada vez mais e mais para adotá-la, mas ela desistia de todos. Graças a persistência dos que vinham, ela resolveu formular um jogo: se tocasse uma música bela o suficiente e ninguém derramasse sequer uma lágrima, poderia leva-la sozinha. Era arriscado, mas até o mais forte dos homens não conseguia conter seu lado emocional quando a ouviam escolhendo com sagacidade as notas perfeitas para formular um conjunto musical único. Por algum tempo isso funcional, mas até a chegada de um casal bem vestido, com pose de que tinha bens o suficiente para cuidar das duas e melhor de tudo, eram gentis o suficiente para que não fosse negada sua passagem por desconfianças.

Ambos ouviram a música de Tsukihime, mas Amaterasu observava-os curiosa, temendo que ali fossem seus últimos momentos junto de seus amigos queridos. Após o fim, o homem enxugou suas lágrimas de forma orgulhosa, como se fosse apenas uma brisa que machucou o olho e por isso lacrimejava, sua mulher, por outro lado, escondeu o rosto e procurava, em meio a escuridão ocasionada pelas mãos, achar uma forma de acalmar seu coração. Levantaram-se e assinar os papéis necessários para ter a guarda das duas as pegaram pelas mãos, tendo suas coisas pegas mais tarde. Vendo que seus receios estavam corretos, retornou com um pedido de desculpas e procurou por Linus, seu irmão, que estava observando-as com uma expressão de confusão no rosto. Não era por menos, já que do nada elas iam embora, longe de sua vista para possivelmente nunca mais se verem. Compreendia a dor dele e então o abraçou, tentando confortá-lo como podia. Disse que não era para ele ficar brabo ou triste, pois retornaria para ele quando conseguisse. Os braços dele a apertaram, como se seus desejos de não a deixar ir se materializassem e então Tsukihime retornou, abraçando-os por algum tempo e ficando assim enquanto as memórias faziam com que a pequena derramasse lágrimas no ombro do irmão, mesmo que segurasse-se o melhor que podia, não conseguia restringir o sentimento cruel de perda que a preenchia.

A vida era boa com seus “novos pais”, mesmo que permanecessem com o antigo sobrenome, negando atualizá-lo. Mesmo que de começo fosse difícil ter um bom entendimento com ambas, eles se esforçavam para serem bons tutores. A casa deles era o triplo da que inicialmente viviam e havia um quarto para cada, não tendo que dividi-los. As comidas eram sempre frescas e vez ou outra havia alguma coisa exótica. De noite costumava ajudar na comida a fim de ter um bom entrosamento com aquelas pessoas que entraram de supetão em suas vidas.

O motivo daquele “luxo” todo era simplesmente que o pai adotivo delas tinha um cargo importante no exército e por isso, as influenciava com histórias de seus feitos, seja em missões ou em casos engraçados, pequenas aventuras, que ocorriam nos bastidores, com amigos da família ou mesmo com os temidos “cabeças brancas”, que eram como os mais altos postos eram conhecidos, já que na maioria dos casos eles tinham gastado anos de suas vidas em prol daquele trabalho para conseguirem chegar onde estavam e esse, aparentemente, era um dos objetivos daquele homem.

Por certo tempo manteve um bom relacionamento com o homem que a treinou um pouco nas artes do combate corpo-a-corpo, mas não tinha muita força física para dar um soco realmente forte, então deixou passar a oportunidade. Preferia cozinhar para eles e isso chamava a atenção dele, que assim como o interesse dela pelas histórias dele, cogitava um emprego lá dentro que não ocasionasse em combate. Tsukihime passava algum tempo com eles, mas sempre se deu melhor era com a “mãe”.

Dois anos depois, houve uma briga. Não sabia dizer o que aconteceu, possivelmente algo do íntimo dos dois, mas acabaram por se separarem ao decorrer dos meses que se passaram em um clima ruim e agitado. Não houve tempo de se adaptar facilmente àquilo, pois antes que prestasse atenção, a mulher já estava fazendo suas malas. Ameaçou sair de casa umas duas vezes, mas quem realmente saia era o pai. Tsukihime ficava para se entender com ela dentro de casa, enquanto Amaterasu seguia o homem até uma escadaria próxima de casa que levava a um parque e lá, sentava-se com ele, mas ficava quieta (mesmo que soubesse que deveria falar alguma coisa reconfortadora). Vendo o rumo que as coisas estavam tomando, ele ofereceu para ela trabalhar no exército com ele, já temendo o pior da família, era melhor que ela se ocupasse, mesmo jovem daquele jeito. Aceitou de bom grado e, em pequenos momentos de aproximação, deitou no ombro dele e ficou ali, como se fosse o suficiente para acalmar os ânimos.

Naquele dia, retornaram tarde para casa, pois após ali foram a um restaurante comer alguma coisa e conversaram os dois de formas mais descontraídas. Aos poucos parecia que os problemas em casa haviam sumido, mesmo que isso incomodasse Amaterasu por dentro. Assim que chegaram em casa, não havia Tsukihime e nem a mãe delas, e isso a afligiu. Havia uma espécie de carta em cima da mesa onde havia explicações de que ambas foram embora para Mishtrall. De início, com a qual fora pega de surpresa, ficou meio incrédula, como se no outro dia a irmã retornaria para casa, mas no que alimentava a mesma ilusão com seu pai verdadeiro, as lágrimas começaram a escorrer por nem ao menos poder dar um adeus a sua irmã. Sabia onde ela estava, mas ao mesmo tempo, seria impossível acha-la em outro reino. Houve apenas o silêncio por parte do homem, que se fechou por algum tempo, contendo o sofrimento consigo.

Após um mês de reabilitação, ele levou a garota que continuou com ele para o exército e lá fizeram alguns testes para ser aprovada como cozinheira e facilmente passou, sem falar que agora poderia ter acesso a academia deles, onde teria uma roupa própria para treinar junto dos novatos (afinal, tinha certo conhecimento com o que aprendeu nos jardins de casa com seu pai adotivo). Aos poucos ambos começavam a superar as dificuldades, mesmo que jamais tenham recebido uma notícia das duas mulheres que sumiram na calada da noite somente deixando um bilhete para trás.

Com dezesseis anos, então, já estava com um posto bom dentro da cozinha e sabia mexer com tudo lá dentro com habilidade, ocasionando uma boa imagem para sua família, ou seja, seu pai que já tinha um posto melhorado e conversavam sempre que ele vinha almoçar ou jantar (quando ficava até a noite, no caso).

Certa vez houve um pequeno problema no gás da cozinha e o local ficou extremamente quente, pois havia muita combustão e isso quase fez a garota desmaiar diversas vezes. Isso perpetuou por algum tempo e, temendo ser alguma doença, avisou seus superiores sobre o fato e logo resolveram fazer uma cirurgia para implantação de cristais no corpo, com a finalidade de deixar seu corpo mais resistente ao calor. Lascaram por entre suas veias um cristal vermelho que aos poucos fora se misturando com o sangue e assim ela adquiriu a habilidade de transformar seu corpo, no que ela brinca, em uma panela de pressão ambulante. Após isso tudo, descobriram que era só ajeitar os fogões e os botijões e não mais teriam tal problema com superaquecimento. A garota riu ao saber disso, mas mesmo assim, sua produção quase duplicou pois agora conseguia deixar sua pele quente o suficiente para que calores semelhantes não a machucassem.

Vendo a possiblidade de morar sozinha, então com o que ganhava e tendo ajuda de seu pai, resolveu morar sozinha nos arredores do quartel onde trabalhava e isso despertou seu interesse em Linus novamente. Já fazia muito tempo e temia que ele já tivesse ido embora do orfanato, mesmo que isso fosse uma coisa boa. Colocou sua roupa comum e saiu em um dia de folga para “adotá-lo”, o que era estranho, já que era um ano mais nova que ele.

Chegando na porta, bateu duas vezes, como era de seu costume e um homem estranhamente familiar a atendeu. Era seu irmão. Antes que pudesse cumprimenta-lo, ele se jogou e abraçou fortemente, mas tamanho era o poder de seus braços que isso a fez soltar um suspiro aliviado de dor quando ele a soltou, mas nada falou durante isso enquanto retribuía o abraço. Avistou rapidamente a velhinha que cuidava deles e o tempo fora cruel com ela, talvez pelo trabalho incessante. Entrou e conversou com ambos quase que a tarde inteira e logo, chegou ao ponto de dizer o porque de seu retorno, que fora feito quase que na hora, permitindo a guarda de Linus para Amaterasu. Era engraçado a ironia com a qual estavam juntos.

Ajudou-o na mudança para sua casa que era certamente confortável, mas nada muito grande. Ele estava bem mudado e volta e meia conversavam sobre os ocorridos nesse meio tempo, contando a ele, também, o fatídico caso de sua irmã que havia ido morar longe e sem maiores informações de seu paradeiro ou estado físico. Mas por enquanto era o que a cozinheira conseguia fazer.

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