segunda-feira, 27 de maio de 2013

Ballore Malthas, Chapeuzinho Negro

Nascida e criada em Bone Village, ela nunca pediu para ser perseguida por agentes do Governo Mundial, mas sua ligação com aquelas pessoas tão voltadas à religião bestial e possíveis atos não bem vistos pelo mundo, certamente fizeram com que ela se torna-se quem é hoje.

Sua história começou quando ainda era pequena, saindo da escola e indo direto para casa, onde em ambos os lugares, lhe era ensinada que tudo (ou quase tudo) eram obras do senhor das trevas. E isso não era uma coisa ruim, pois quem o fazia mau uso eram os humanos ignorantes que não compreendiam direito as obras e sabedoria superior de tal divindade sombria.

O ambiente escuro e úmido do lugar a incomodavam levemente, mas aprendeu a se entender com isso. Usava um manto negro comprido com capuz que se puxasse para frente, poderia até mesmo ser fechado (da qual muitas vezes utilizou de tal vantagem para tirar de vista os bonecos assustadores de Gepeto ou cenas que uma criança evita ver). Em seus sapatinhos havia um sabão grosso que em contato com água, deslizava sem grandes dificuldades e assim ela se locomovia com rapidez e pouco falava.

Sua figura era sombria, sendo uma criança de olhos vermelhos que preferia ficar nas sombras de seu manto a ter de falar com alguém, mas ela era somente tímida, pois quase tudo naquela ilha era totalmente assustador e poucos davam importância para isso. A convivência não a fazia se acostumar, na verdade, fazia com que um sentimento de desespero crescesse dentro de seu peito e mesmo que ela quisesse gritar ou chorar, sabia que isso não mudaria o cenário com a qual vivia. Seus pais se preocupavam com ela e a levavam na igreja a fim de receber bênçãos, mas ela tinha medo dos sacerdotes, que tinham um certo interesse nela por causa de sua doença ocular.

A visão dela nunca fora ruim, pois sempre viveu nas trevas e apenas luminosidades fortes demais a machucavam, coisas que pessoas com olhos normais apenas colocariam as mãos nos olhos a fim de criar uma sombra.

Não gostava de tirar o manto, se mantendo escondida dos olhos de todos na medida do possível. Certa vez, fora se encontrar pessoalmente com Grandma Batt, que lhe olhou diretamente nos olhos e com um sorriso irônico de quem sabia o que fazer, a levou para ficar um tempo na catedral do centro da cidade, a fim de aperfeiçoá-la no culto, pois seu jeito tímido deveria mudar para uma líder religiosa e mais uma vez, a cor rubra de seus olhos seriam perfeitas para sua imagem.

Seus pais não foram contra, na verdade, até acharam que seria o melhor para ela, entregando apenas uma mala com suas roupas e um boneco totalmente costurado e sem um olho que ela usava para dormir a noite.

Os primeiros dias foram com um grupo, onde ela ficava apenas sentada, o mais longe possível dos colegas, que também pareciam um pouco afastados. Lá, um noviço lhes ensinava tudo que seria preciso saber daquela religião e como falar com as pessoas. Faziam alguns jogos a fim de entretê-los e ajudar a se conhecer melhor, assim todos se enturmavam da maneira que conseguiam, menos ela que tinha medo dos colegas e principalmente do noviço, que sempre perguntava o porquê dela usar o manto dentro da aula e de seu rosto de quem não dormia por muito tempo e certamente já vira muita coisa.

Ficavam trancados numa sala na área subterrânea da catedral e uma coisa que chamou a atenção da garota após algumas semanas, fora que dali eles não ouviam som algum, nem da chuva que ocorria quase que o tempo inteiro pela cidade. Tudo ali era silencioso e calmo, onde apenas a voz do noviço era ouvida e qualquer cochicho entre os colegas já os entregavam. Era como uma lavagem cerebral onde tudo que ouviam, dia após dia, era sobre a religião e formas de comportamento.

Quando eram liberados a comer, o noviço mesmo saia da sala e a trancava, demorando algum tempo e retornando com diversas bandejas com um carrinho que tinha tudo que era preciso para um corpo funcionar. Não era uma comida gostosa ou que realmente matasse a fome, mas era nutritiva e isso era o suficiente para eles, que sempre caiam em uma rotina e tornavam-se cada vez mais manipuláveis.

No horário da noite, quando eram levados até a ala onde dormiriam, eram vendados (sendo que recebiam em mãos suas vendas) e levados segurando um a mão do outro, como um grupo que desconhecia seu destino, apesar de já ter um preparo psicológico. Todo dia quando iam dormir e tinham de ficarem cegos por alguns segundos, ela temia ser levada para outro lugar e mais uma vez a sensação de pânico a atingia em cheio.

Chegando no dormitório, o noviço os deixava ali e trancava a porta. Não havia luz no lugar e assim como a sala onde ficavam o dia todo, não havia barulhos e só sabiam que a noite passou quando ouviam o som da chave deslizando pela fechadura a fim de verem aquela figura cadavérica que os levava novamente para a sala. As noites eram mal dormidas, visto que o silêncio tomava conta deles e a penumbra fazia que escolhessem seus lugares rapidamente, mas normalmente juntavam travesseiros e cobertores e dormiam todos juntos no chão, a fim de ter um pouco de afeto e destruir um pouco aquela solidão coletiva que todos certamente sentiam.

Com o tempo, alguns começaram a ficar mais fracos e começavam a sumir do grupo, sendo levados sem que ninguém notasse. Ela sabia que não podia ser durante o momento em que eram vendados, pois alguém notaria que uma mão fora solta e ela ouvia tudo em sua volta, cada passo naquele corredor que ecoava e tinha um som de molhado em cada passada. Somente havia uma forma de serem levados sem serem notados pelos outros alunos, era de madrugada, enquanto todos dormiam.

Algumas noites sem dormir começaram a ocorrer, pois no breu do dormitório, poderia haver alguém mais além deles que nada notariam e mesmo que se chocassem com esse indivíduo extra, não saberiam dizer se era um colega ou não, mesmo que pedissem desculpas (apesar de pouco falarem entre si, pois não tinham motivação ou memórias para serem relatadas sem que os outros já não tivessem passado pelo mesmo).

O noviço fazia que desconhecia a falta dos colegas, mas ninguém ali era obtuso o suficiente para não notar a falta deles, mas logo aprenderam, de acordo com as respostas dele, que era melhor não se preocupar com aquilo, seriam pensamentos desnecessários para a aula e assim, aprenderam a deixar os fracos para trás da pior forma.

Anos se passaram e pesadelos a consumiam quase que todas as noites, fazendo com que ela se tornasse fraca com a medida do tempo. Já estava com catorze anos e se perguntava quase que diariamente quando iria ser liberta de volta para seus pais, dúvidas como essa e se eles estavam fazendo algo para reavê-la também rondavam sua mente, e sua concentração nas aulas começava a se deteriorar aos poucos. Já começava a se vestir com roupas diferenciadas, mas normalmente escolhia por um vestido negro, um resquício de seu psicológico pelo manto que a “protegeu” por tanto tempo.

O noviço olhava bastante para ela durante a aula, como se a vigiasse. Tinha certeza que era por causa das faltas de atenção que cometia, tendo a mente em outros lugares além do que a ensinavam, apesar do sistema deles ser feito para que a pessoa prestasse atenção e vivesse somente daquilo, eventuais falhas humanas ocorriam como distração e estresse. Aquilo só favorecia com que ela piorasse, pois temia ser a próxima a ser levada sem deixar vestígios para seus colegas.

Na noite em que seu desempenho foi o pior, lágrimas escorreram por suas bochechas e ela as tocou, pois desconhecia aquilo e não sabia como lidar com aquela sensação que a aliviava e consumia, mas aos poucos se tornava em algo desesperador, pois começava a se sentir triste e todas suas emoções, seguradas por anos vinham a tona. Abaixou a cabeça e respirou fundo, tentando ao máximo parar com aquilo, sabendo que de nada ajudaria em sua situação. O noviço, manteve sua atenção em passar o conteúdo para eles, ignorando completamente ela e fazia o mesmo os colegas, que aos poucos foram se tornando mais individualistas e ela seria jogada para trás por não aguentar e todos estavam em seus limites, fazendo o melhor para não desaparecerem.

Naquela noite, ela conversou com eles assim que a porta fora trancada, mas muito baixinho enquanto ainda seguravam as mãos uns dos outros para ter certeza de que não haveria um a mais para ouvir. Sabendo de sua situação, ela pediu desculpas a todos ali e desejou sorte a todos, pois certamente ela não mais os veria. Como falha, não sabia se seria liberta ou morta, por todos os anos de treinamento e conhecimento que teve.

Chegaram a um acordo, de que em prol do tempo e tudo que passaram juntos, ela ficaria no meio de um circulo e todos dormiriam ao redor. Ela e mais dois não conseguiam dormir, por medo e ansiedade, enquanto aguardavam que alguém viesse busca-la. De repente, ouviram um barulho como se algo fosse liberado e logo começaram a relaxar e dormir tranquilamente.

Acordara em uma sala escura, onde um holofote ficava piscando em sua direção com uma luz branca enquanto estava amarrada pelos braços, presa com as juntas para baixo e deixando que os ombros recebessem todo o peso do corpo enquanto os pulsos sofriam com as cordas apertadas e com cerdas que a queimavam. A luz era o suficiente para cegá-la, tendo de olhar para o chão e mesmo assim seus olhos ardiam a ponto de começar a lacrimejar, nem conseguia ver se havia alguém em sua volta, mas sabia que não havia chegado ali sozinha ou por livre e espontânea vontade.

Não chorava ou demonstrava medo, apenas irritabilidade e esforço em se livrar daquilo, mesmo que só sentisse mais dor ao tentar tirar as mãos por entre o nó que a segurava. Precisava se soltar a fim de parar de sofrer.

Vendo que ela lutava para sair dali, um homem falou, perguntando se ela sabia o que havia feito. Com os olhos fechados e lacrimejando, ela respondeu apenas que a tirassem dali e então conversariam melhor, estava desarmada e não havia motivo para aquele sofrimento desnecessário. Após alguns segundos de silêncio, fora respondido que ela não estava em posição para fazer exigências e então, ela aquietou-se, segurando a dor e apenas deixando o peso de seu corpo fazer seu trabalho, já que era inútil perder suas forças ali. Era impossível erguer a cabeça e desnecessário, então apenas perguntou o que era possível fazer para sair dali.

Uma chibatada quente fora recebida nas costas e um som de estalo era ouvido enquanto ela mordia o lábio inferior e erguia a cabeça graças à dor. Haviam esquentado um chicote de múltiplas pontas a fim deixar mais brutal, mas ela nada falou, nem ao menos xingou, apenas perguntou o que poderia fazer para sair dali, insistindo. Deram uma segunda e após erguer a cabeça, abriu levemente o olho e aquela luz a fez fechar rapidamente, era impossível ver, tanto pela sensibilidade de seu corpo quanto pelos feixes que confundiam a visão. Aquietou-se mais uma vez e pensou por alguns segundos. Seu coração pulsava rapidamente e o sangue começava a escorrer de suas costas em direção do chão, pingando e ecoando naquela zona fechada.

Resolveu fazer uma coisa rapidamente, perguntou mais uma vez, mas sua voz saiu fraca pois seu corpo já há muito estava cansado e não resistia àquelas chibatadas, mas precisava ser forte para não morrer sendo torturada. Assim que recebeu nas costas, pegou impulso com o corpo e girou, chutou a mão de quem a batia, mas nada mais fora conseguido fazer, apenas seguiu girando mais duas vezes antes da corda retornar.

Um som estranho fora ouvido, como se alguém tivesse achado graça e então, mandaram que tirassem sua roupa. Uma grande mão terminava de rasgar seu vestido com puxões que marcavam sua pele e então, retomaram a bater em seu corpo, agora sem a leve “proteção” que dava os tecidos e dando um dano psicológico pela humilhação que recebia. Agora não davam somente em suas costas, batendo também em sua barriga, seios, rosto e pernas. Cuspiu sangue no chão e mais uma vez, de forma educadamente debochada perguntou o que poderia fazer para sair e como se a resposta fosse diferente, o homem a soqueou no rosto. Seu punho era grande e tinha um impacto poderoso, que a fez girar na corda até arrebentar pela movimentação e caiu no chão, batendo de ombro e depois acertando a cabeça na parede, onde ela sorriu e desmaiou.

Levaram-na a uma solitária, onde lá ficou por cinco dias, recebendo remédios e injeções para controla-la e fazer com que ficasse mais dormindo que acordada. Algo peculiar dentro da solitária, é que havia uma luz bruxuleante, como a de uma vela, que parecia que ficava na frente da porta e isso iluminava fracamente o interior da solitária, onde ela conseguia ver que as paredes e chão eram completamente sujos de sangue, ossos vermelhos ou com manchas negras de carbonização. Além de tais marcas grotescas, havia um boneco de Gepeto sentado próximo a porta que todos médicos que passavam, faziam como se ele não existisse. Ela não podia reagir graças às drogas que era submetida. A fim de não perder a sanidade perante aquela tortura psicológica, fechava seus olhos e preferia dormir ou ficar quieta, independente do que fizessem e obedecia religiosamente cada passo que lhe era mandada.

No sexto dia, ela fora colocada em uma cadeira de madeira e um homem sentou em sua frente. Ele usava um manto negro e não era possível ver seu rosto, somente sua boca com um cavanhaque grosso. Ele ficou um tempo olhando-a, vendo se ela estava ciente da realidade e conversou um pouco com ela, sobre coisas sem sentido, como um amigo distante que resolvia retomar velhos assuntos. Estava com dor de cabeça por causa dos medicamentos, mas fez o possível para responder para ele de forma ciente, avisando-o de tempos em tempos que estava tendo problemas e que não sabia mais quanto conseguiria aguentar, mesmo que ela poderia falar alguma besteira pois não estava em seu melhor.

Vendo que estava mais séria e direta, resolveram vendá-la e mais uma vez, levar para o quarto onde tinha a luz piscante. Lá, ela ficou sentada e não amarrada, enquanto três homens discutiam o destino dela. Falavam abertamente, sem se preocupar se a vítima os ouvisse e chegaram a um consenso: a libertariam, mas dariam como louca e colocariam num barco médico para sair da ilha. Mesmo que ela contasse o que ocorreu, ninguém acreditaria nela. Só a deixaram viver pois por mais que tentassem tortura-la ao extremo, ela demonstrava fazer o possível para se proteger, mesmo que mentalmente e isso os agradava, viveria para ser um experimento.

Colocaram-na em uma camisa-de-força e embarcaram-na em um navio que ia para Firebrick Island, onde ela ficaria internada no hospital local. Era um lugar precário e isso ajudaria em despistar por chamar pouca atenção. Saíram de madrugada e por isso, ninguém daria por vê-los.

Na viagem, ficava o tempo todo sentada em uma cela com uma cama, onde recebia água e comida periodicamente. Os navegadores estavam sempre conversando sobre os destinos, rotas, desvios e formas de aceleração e isso ajudou na recuperação da garota, pois ela distraia a mente com outra coisa, já que tentava compreender e ter uma ideia meio que por cima sobre o que eles estavam falando.

Ninguém conversava com ela e era a única que estava na cela, enquanto descansava o corpo e retomava a ser quem era. Havia passado por tanta coisa e poderia estar realmente louca naquela etapa, mas precisava se segurar em alguma coisa e prestava atenção em outras coisas, como os detalhes da cela. Muitas vezes fora vista falando sozinha sobre a movimentação que o navio fazia ou como era irregular tal pedaço de madeira. Isso só reforçava sua imagem de louca, mas ela estava descrente sobre sua situação, negando seus traumas.

Uma coisa que ninguém comentou foi que havia um navio de pequeno porte que os seguia. Não havia bandeira, apenas era como uma escolta que vinha desde Bone Village e garantiria a segurança até a entrada da nova ilha.

Chegando em Firebrick, o barquinho sumiu de vista, indo para outra costa e a garota fora levada até o pronto socorro local, onde retiraram a camisa-de-força e a deitaram. Um pagé, o Doutor Bid Surusky sentou próximo a ela e começou a conversar, enquanto a menina falava com ele e tinha devaneios, ouvindo coisas que ele não falava e seguindo um monólogo comprido.

Ele anotava suas reações e dava poucas drogas para ela, mais pela área da noite, que ajudavam-na a dormir de forma calma, pois tinha muitos pesadelos em que acordava gritando, ou se debatendo. Bid sabia que ela tinha passado por muitas coisas e fazia seu melhor em ajudar em sua sanidade, aos poucos centralizando sua mente na realidade ou pelo menos fazê-la parar de falar sozinha.

Anos de terapia ocorreram e com vinte e dois anos, ela já estava ajudando no hospital, como uma forma de ajuda-lo (mesmo que seus conhecimentos médicos fossem totalmente inúteis), levando remédios para ele, mas mesmo assim ela tinha um jeito que não se encaixava no local, pois não tinha medo em encarar bandidos mal encarados que apareciam no hospital atrás de drogas e sempre se esforçava quando recebia uma ordem que deveria ser executada rapidamente por qualquer que fosse a emergência.

Usava roupas locais, tendo seus cabelos compridos e roxos amarrados em uma trança comprida, calças jeans e camisa xadrez mais comprida que ficava para fora. De qualquer forma, isso a incomodava, mesmo que tivesse passado oito anos naquela ilha. Diversas vezes seus olhos doíam pela luz solar (que era quase que o oposto em termos de luminosidade, diante de sua ilha natal), já que quase não havia árvores ou prédios grandes para descansar a vista embaixo de uma sombra.

Certo dia, um grupo de homens de terno, óculos escuros e chapéus apareceram lá e pediram para que ela os acompanhasse. Meio indeciso, Bid ficou confuso, mas nada fez, deixando que ela escolhesse por si só, pois ele nada mais era do que um médico e ela já era uma adulta, sabia o que fazer sem ter que ser mandada. Aceitou e os seguiu, tendo uma pistola escondida em suas vestimentas.

Foram até um bar, onde foram juntos até o banheiro. Dois homens adentraram e expulsaram quem estivesse lá e logo todos entraram juntos. Ela já esperava pelo pior e colocou a mão no cabo da arma. Logo, um homem se apresentou com um nome oriental, sendo que ele não tinha características, era como um codinome. Pediu para que ela desse sua naturalidade e contasse um pouco mais do que ocorrera. Falou abertamente de onde vinha, mas não comentou sobre os anos passados na capela do centro da cidade. Os homens ficaram intrigados, pois esperavam por alguma coisa a mais, mas mesmo que fossem diretos, ela não conseguia responder com sinceridade, tendo um bloqueio mental. Sua ignorância perante o caso era tão convincente, pois sua atitude não mudava, que os homens desistiram e sumiram por algum tempo após deixa-la.

Quase um ano depois, ela pegou um navio para Jervan com o dinheiro de pagamento que recebera de Bid. Lá, ela iria querer mudar completamente de vida, tentando tirar de sua mente Bone Village e mesmo, Firebrick Island que ela só chegou a conhecer graças aos ocorridos em sua ilha natal.

Pagou por uma viagem aleatória, onde viveria em qualquer outra ilha, desde que não fossem aquelas duas.

Durante sua viagem, quis ficar no convés a fim de ver o mar. Era incrível e o melhor momento para vê-lo era quando escurecia, pois assim, o reflexo do Sol não batia na água. Por vez ser calmo e a viagem longa, ela ficava muito tempo na superfície do navio. No segundo dia de viagem, algo chamou sua atenção: no horizonte, algo se movimentava sorrateiramente, como se os seguisse. Isso a incomodou e ela logo chamou um mestre de bordo para averiguar se ele não via o mesmo e fora reconhecido que era um barco que os seguia. Logo ele tocou o sino e anunciou por piratas.

Todos os marujos a bordo se armaram de como era possível e pararam o navio, aguardando que os piratas se aproximassem e um combate se iniciasse. O barco, ao notar que fora visto, logo mudou a rota e hastearam uma bandeira branca, que fora anunciado por um homem que ficava no topo do mastro principal com uma luneta. Todos se sentiram aliviados e foram dormir, o mestre de bordo agradeceu a preocupação da garota e logo ela abriu um sorriso, entendendo o medo que os piratas causam na população.

Assim que colocou os pés em Jervan, notou que ali teria de trabalhar duro e logo, procurou um emprego de auxiliar de construção, onde fazia seu melhor em ajudar os trabalhadores, porém, muitos diziam que ela seria ótima para a arena nos andares inferiores.

Seu chefe, um homem grande e gordo que carregava toras embaixo do braço como se fossem palitos, aproximou-se dela e lhe disse que não havia futuro para ela ali, todos queriam vê-la nas arenas, por ser uma mulher e ter um corpo atraente. Recebera uma folga e foram juntos até Umuos, onde ele apresentou o local a ela.

Ficou enojada com a baderna e sujeira que era vista ali, muito diferente de Bone Village que era sempre limpa, mas o céu escuro a agradava. Ele a alistou em uma luta, contra a vontade dela, a fim de ver o potencial atlético da garota e até onde conseguiria lucros em cima do esforço dos outros.

Em sua primeira luta, tinha de vencer um boxeador, onde ele ficava pulando incessantemente e ela desviava na medida do possível ou se defendia dos ataques. Aquela série de pulos o ajudava no ritmo, mas cansava o corpo, ainda mais atacando diretamente. Assim que ele conseguiu coloca-la contra a parede e desferir diversos socos, ela virou o corpo e recebeu muitos golpes nas costas, mas deu uma cotovelada próxima ao esôfago, que fora o suficiente para tirá-lo de combate. Estava toda machucada e dolorida, mas conseguiu vencer o primeiro combate, recebendo em torno de setecentos mil berries para seu chefe, que antes que ele a apostasse em outro combate, ela pediu que ele comprasse armas e uma roupa nova para ela, de forma que ele escolhesse a roupa e ela a arma.

Claro, ele escolheu a mais sensual que achou e ela, preferiu por uma foice, não sabia dizer o porque, talvez pela imagem da morte com uma arma daquelas, que automaticamente relembrava sua vila. Por mais que ela fizesse força em esquecer, ela sabia que estava atada às trevas do passado.

Logo, ela pediu para se trocar e levou sua arma junto, trocou de roupa, deixou como pagamento a sua antiga e fugiu dos olhos do homem, que agora tinha perdido uma trabalhadora. Ele era chefe do setor em que ela trabalhava, mas não tinha poderes o suficiente para organizar uma caçada atrás da garota, fazendo com que ela ficasse simplesmente a própria sorte.

Sozinha, em uma cidade escura e violenta, tendo apenas uma foice em mãos e sua sorte, ela começava sua jornada para fora de Umuos, Jervan.