Nascida e criada em Bone Village, ela nunca pediu para ser perseguida
por agentes do Governo Mundial, mas sua ligação com aquelas pessoas tão
voltadas à religião bestial e possíveis atos não bem vistos pelo mundo,
certamente fizeram com que ela se torna-se quem é hoje.
Sua
história começou quando ainda era pequena, saindo da escola e indo
direto para casa, onde em ambos os lugares, lhe era ensinada que tudo
(ou quase tudo) eram obras do senhor das trevas. E isso não era uma
coisa ruim, pois quem o fazia mau uso eram os humanos ignorantes que não
compreendiam direito as obras e sabedoria superior de tal divindade
sombria.
O ambiente escuro e úmido do lugar a incomodavam
levemente, mas aprendeu a se entender com isso. Usava um manto negro
comprido com capuz que se puxasse para frente, poderia até mesmo ser
fechado (da qual muitas vezes utilizou de tal vantagem para tirar de
vista os bonecos assustadores de Gepeto ou cenas que uma criança evita
ver). Em seus sapatinhos havia um sabão grosso que em contato com água,
deslizava sem grandes dificuldades e assim ela se locomovia com rapidez e
pouco falava.
Sua figura era sombria, sendo uma criança de olhos
vermelhos que preferia ficar nas sombras de seu manto a ter de falar
com alguém, mas ela era somente tímida, pois quase tudo naquela ilha era
totalmente assustador e poucos davam importância para isso. A
convivência não a fazia se acostumar, na verdade, fazia com que um
sentimento de desespero crescesse dentro de seu peito e mesmo que ela
quisesse gritar ou chorar, sabia que isso não mudaria o cenário com a
qual vivia. Seus pais se preocupavam com ela e a levavam na igreja a fim
de receber bênçãos, mas ela tinha medo dos sacerdotes, que tinham um
certo interesse nela por causa de sua doença ocular.
A visão dela
nunca fora ruim, pois sempre viveu nas trevas e apenas luminosidades
fortes demais a machucavam, coisas que pessoas com olhos normais apenas
colocariam as mãos nos olhos a fim de criar uma sombra.
Não
gostava de tirar o manto, se mantendo escondida dos olhos de todos na
medida do possível. Certa vez, fora se encontrar pessoalmente com
Grandma Batt, que lhe olhou diretamente nos olhos e com um sorriso
irônico de quem sabia o que fazer, a levou para ficar um tempo na
catedral do centro da cidade, a fim de aperfeiçoá-la no culto, pois seu
jeito tímido deveria mudar para uma líder religiosa e mais uma vez, a
cor rubra de seus olhos seriam perfeitas para sua imagem.
Seus
pais não foram contra, na verdade, até acharam que seria o melhor para
ela, entregando apenas uma mala com suas roupas e um boneco totalmente
costurado e sem um olho que ela usava para dormir a noite.
Os
primeiros dias foram com um grupo, onde ela ficava apenas sentada, o
mais longe possível dos colegas, que também pareciam um pouco afastados.
Lá, um noviço lhes ensinava tudo que seria preciso saber daquela
religião e como falar com as pessoas. Faziam alguns jogos a fim de
entretê-los e ajudar a se conhecer melhor, assim todos se enturmavam da
maneira que conseguiam, menos ela que tinha medo dos colegas e
principalmente do noviço, que sempre perguntava o porquê dela usar o
manto dentro da aula e de seu rosto de quem não dormia por muito tempo e
certamente já vira muita coisa.
Ficavam trancados numa sala na
área subterrânea da catedral e uma coisa que chamou a atenção da garota
após algumas semanas, fora que dali eles não ouviam som algum, nem da
chuva que ocorria quase que o tempo inteiro pela cidade. Tudo ali era
silencioso e calmo, onde apenas a voz do noviço era ouvida e qualquer
cochicho entre os colegas já os entregavam. Era como uma lavagem
cerebral onde tudo que ouviam, dia após dia, era sobre a religião e
formas de comportamento.
Quando eram liberados a comer, o noviço
mesmo saia da sala e a trancava, demorando algum tempo e retornando com
diversas bandejas com um carrinho que tinha tudo que era preciso para um
corpo funcionar. Não era uma comida gostosa ou que realmente matasse a
fome, mas era nutritiva e isso era o suficiente para eles, que sempre
caiam em uma rotina e tornavam-se cada vez mais manipuláveis.
No
horário da noite, quando eram levados até a ala onde dormiriam, eram
vendados (sendo que recebiam em mãos suas vendas) e levados segurando um
a mão do outro, como um grupo que desconhecia seu destino, apesar de já
ter um preparo psicológico. Todo dia quando iam dormir e tinham de
ficarem cegos por alguns segundos, ela temia ser levada para outro lugar
e mais uma vez a sensação de pânico a atingia em cheio.
Chegando
no dormitório, o noviço os deixava ali e trancava a porta. Não havia
luz no lugar e assim como a sala onde ficavam o dia todo, não havia
barulhos e só sabiam que a noite passou quando ouviam o som da chave
deslizando pela fechadura a fim de verem aquela figura cadavérica que os
levava novamente para a sala. As noites eram mal dormidas, visto que o
silêncio tomava conta deles e a penumbra fazia que escolhessem seus
lugares rapidamente, mas normalmente juntavam travesseiros e cobertores e
dormiam todos juntos no chão, a fim de ter um pouco de afeto e destruir
um pouco aquela solidão coletiva que todos certamente sentiam.
Com
o tempo, alguns começaram a ficar mais fracos e começavam a sumir do
grupo, sendo levados sem que ninguém notasse. Ela sabia que não podia
ser durante o momento em que eram vendados, pois alguém notaria que uma
mão fora solta e ela ouvia tudo em sua volta, cada passo naquele
corredor que ecoava e tinha um som de molhado em cada passada. Somente
havia uma forma de serem levados sem serem notados pelos outros alunos,
era de madrugada, enquanto todos dormiam.
Algumas noites sem
dormir começaram a ocorrer, pois no breu do dormitório, poderia haver
alguém mais além deles que nada notariam e mesmo que se chocassem com
esse indivíduo extra, não saberiam dizer se era um colega ou não, mesmo
que pedissem desculpas (apesar de pouco falarem entre si, pois não
tinham motivação ou memórias para serem relatadas sem que os outros já
não tivessem passado pelo mesmo).
O noviço fazia que desconhecia a
falta dos colegas, mas ninguém ali era obtuso o suficiente para não
notar a falta deles, mas logo aprenderam, de acordo com as respostas
dele, que era melhor não se preocupar com aquilo, seriam pensamentos
desnecessários para a aula e assim, aprenderam a deixar os fracos para
trás da pior forma.
Anos se passaram e pesadelos a consumiam
quase que todas as noites, fazendo com que ela se tornasse fraca com a
medida do tempo. Já estava com catorze anos e se perguntava quase que
diariamente quando iria ser liberta de volta para seus pais, dúvidas
como essa e se eles estavam fazendo algo para reavê-la também rondavam
sua mente, e sua concentração nas aulas começava a se deteriorar aos
poucos. Já começava a se vestir com roupas diferenciadas, mas
normalmente escolhia por um vestido negro, um resquício de seu
psicológico pelo manto que a “protegeu” por tanto tempo.
O noviço
olhava bastante para ela durante a aula, como se a vigiasse. Tinha
certeza que era por causa das faltas de atenção que cometia, tendo a
mente em outros lugares além do que a ensinavam, apesar do sistema deles
ser feito para que a pessoa prestasse atenção e vivesse somente
daquilo, eventuais falhas humanas ocorriam como distração e estresse.
Aquilo só favorecia com que ela piorasse, pois temia ser a próxima a ser
levada sem deixar vestígios para seus colegas.
Na noite em que
seu desempenho foi o pior, lágrimas escorreram por suas bochechas e ela
as tocou, pois desconhecia aquilo e não sabia como lidar com aquela
sensação que a aliviava e consumia, mas aos poucos se tornava em algo
desesperador, pois começava a se sentir triste e todas suas emoções,
seguradas por anos vinham a tona. Abaixou a cabeça e respirou fundo,
tentando ao máximo parar com aquilo, sabendo que de nada ajudaria em sua
situação. O noviço, manteve sua atenção em passar o conteúdo para eles,
ignorando completamente ela e fazia o mesmo os colegas, que aos poucos
foram se tornando mais individualistas e ela seria jogada para trás por
não aguentar e todos estavam em seus limites, fazendo o melhor para não
desaparecerem.
Naquela noite, ela conversou com eles assim que a
porta fora trancada, mas muito baixinho enquanto ainda seguravam as mãos
uns dos outros para ter certeza de que não haveria um a mais para
ouvir. Sabendo de sua situação, ela pediu desculpas a todos ali e
desejou sorte a todos, pois certamente ela não mais os veria. Como
falha, não sabia se seria liberta ou morta, por todos os anos de
treinamento e conhecimento que teve.
Chegaram a um acordo, de que
em prol do tempo e tudo que passaram juntos, ela ficaria no meio de um
circulo e todos dormiriam ao redor. Ela e mais dois não conseguiam
dormir, por medo e ansiedade, enquanto aguardavam que alguém viesse
busca-la. De repente, ouviram um barulho como se algo fosse liberado e
logo começaram a relaxar e dormir tranquilamente.
Acordara em uma
sala escura, onde um holofote ficava piscando em sua direção com uma
luz branca enquanto estava amarrada pelos braços, presa com as juntas
para baixo e deixando que os ombros recebessem todo o peso do corpo
enquanto os pulsos sofriam com as cordas apertadas e com cerdas que a
queimavam. A luz era o suficiente para cegá-la, tendo de olhar para o
chão e mesmo assim seus olhos ardiam a ponto de começar a lacrimejar,
nem conseguia ver se havia alguém em sua volta, mas sabia que não havia
chegado ali sozinha ou por livre e espontânea vontade.
Não
chorava ou demonstrava medo, apenas irritabilidade e esforço em se
livrar daquilo, mesmo que só sentisse mais dor ao tentar tirar as mãos
por entre o nó que a segurava. Precisava se soltar a fim de parar de
sofrer.
Vendo que ela lutava para sair dali, um homem falou,
perguntando se ela sabia o que havia feito. Com os olhos fechados e
lacrimejando, ela respondeu apenas que a tirassem dali e então
conversariam melhor, estava desarmada e não havia motivo para aquele
sofrimento desnecessário. Após alguns segundos de silêncio, fora
respondido que ela não estava em posição para fazer exigências e então,
ela aquietou-se, segurando a dor e apenas deixando o peso de seu corpo
fazer seu trabalho, já que era inútil perder suas forças ali. Era
impossível erguer a cabeça e desnecessário, então apenas perguntou o que
era possível fazer para sair dali.
Uma chibatada quente fora
recebida nas costas e um som de estalo era ouvido enquanto ela mordia o
lábio inferior e erguia a cabeça graças à dor. Haviam esquentado um
chicote de múltiplas pontas a fim deixar mais brutal, mas ela nada
falou, nem ao menos xingou, apenas perguntou o que poderia fazer para
sair dali, insistindo. Deram uma segunda e após erguer a cabeça, abriu
levemente o olho e aquela luz a fez fechar rapidamente, era impossível
ver, tanto pela sensibilidade de seu corpo quanto pelos feixes que
confundiam a visão. Aquietou-se mais uma vez e pensou por alguns
segundos. Seu coração pulsava rapidamente e o sangue começava a escorrer
de suas costas em direção do chão, pingando e ecoando naquela zona
fechada.
Resolveu fazer uma coisa rapidamente, perguntou mais uma
vez, mas sua voz saiu fraca pois seu corpo já há muito estava cansado e
não resistia àquelas chibatadas, mas precisava ser forte para não
morrer sendo torturada. Assim que recebeu nas costas, pegou impulso com o
corpo e girou, chutou a mão de quem a batia, mas nada mais fora
conseguido fazer, apenas seguiu girando mais duas vezes antes da corda
retornar.
Um som estranho fora ouvido, como se alguém tivesse
achado graça e então, mandaram que tirassem sua roupa. Uma grande mão
terminava de rasgar seu vestido com puxões que marcavam sua pele e
então, retomaram a bater em seu corpo, agora sem a leve “proteção” que
dava os tecidos e dando um dano psicológico pela humilhação que recebia.
Agora não davam somente em suas costas, batendo também em sua barriga,
seios, rosto e pernas. Cuspiu sangue no chão e mais uma vez, de forma
educadamente debochada perguntou o que poderia fazer para sair e como se
a resposta fosse diferente, o homem a soqueou no rosto. Seu punho era
grande e tinha um impacto poderoso, que a fez girar na corda até
arrebentar pela movimentação e caiu no chão, batendo de ombro e depois
acertando a cabeça na parede, onde ela sorriu e desmaiou.
Levaram-na
a uma solitária, onde lá ficou por cinco dias, recebendo remédios e
injeções para controla-la e fazer com que ficasse mais dormindo que
acordada. Algo peculiar dentro da solitária, é que havia uma luz
bruxuleante, como a de uma vela, que parecia que ficava na frente da
porta e isso iluminava fracamente o interior da solitária, onde ela
conseguia ver que as paredes e chão eram completamente sujos de sangue,
ossos vermelhos ou com manchas negras de carbonização. Além de tais
marcas grotescas, havia um boneco de Gepeto sentado próximo a porta que
todos médicos que passavam, faziam como se ele não existisse. Ela não
podia reagir graças às drogas que era submetida. A fim de não perder a
sanidade perante aquela tortura psicológica, fechava seus olhos e
preferia dormir ou ficar quieta, independente do que fizessem e obedecia
religiosamente cada passo que lhe era mandada.
No sexto dia, ela
fora colocada em uma cadeira de madeira e um homem sentou em sua
frente. Ele usava um manto negro e não era possível ver seu rosto,
somente sua boca com um cavanhaque grosso. Ele ficou um tempo olhando-a,
vendo se ela estava ciente da realidade e conversou um pouco com ela,
sobre coisas sem sentido, como um amigo distante que resolvia retomar
velhos assuntos. Estava com dor de cabeça por causa dos medicamentos,
mas fez o possível para responder para ele de forma ciente, avisando-o
de tempos em tempos que estava tendo problemas e que não sabia mais
quanto conseguiria aguentar, mesmo que ela poderia falar alguma besteira
pois não estava em seu melhor.
Vendo que estava mais séria e
direta, resolveram vendá-la e mais uma vez, levar para o quarto onde
tinha a luz piscante. Lá, ela ficou sentada e não amarrada, enquanto
três homens discutiam o destino dela. Falavam abertamente, sem se
preocupar se a vítima os ouvisse e chegaram a um consenso: a
libertariam, mas dariam como louca e colocariam num barco médico para
sair da ilha. Mesmo que ela contasse o que ocorreu, ninguém acreditaria
nela. Só a deixaram viver pois por mais que tentassem tortura-la ao
extremo, ela demonstrava fazer o possível para se proteger, mesmo que
mentalmente e isso os agradava, viveria para ser um experimento.
Colocaram-na
em uma camisa-de-força e embarcaram-na em um navio que ia para
Firebrick Island, onde ela ficaria internada no hospital local. Era um
lugar precário e isso ajudaria em despistar por chamar pouca atenção.
Saíram de madrugada e por isso, ninguém daria por vê-los.
Na
viagem, ficava o tempo todo sentada em uma cela com uma cama, onde
recebia água e comida periodicamente. Os navegadores estavam sempre
conversando sobre os destinos, rotas, desvios e formas de aceleração e
isso ajudou na recuperação da garota, pois ela distraia a mente com
outra coisa, já que tentava compreender e ter uma ideia meio que por
cima sobre o que eles estavam falando.
Ninguém conversava com ela
e era a única que estava na cela, enquanto descansava o corpo e
retomava a ser quem era. Havia passado por tanta coisa e poderia estar
realmente louca naquela etapa, mas precisava se segurar em alguma coisa e
prestava atenção em outras coisas, como os detalhes da cela. Muitas
vezes fora vista falando sozinha sobre a movimentação que o navio fazia
ou como era irregular tal pedaço de madeira. Isso só reforçava sua
imagem de louca, mas ela estava descrente sobre sua situação, negando
seus traumas.
Uma coisa que ninguém comentou foi que havia um
navio de pequeno porte que os seguia. Não havia bandeira, apenas era
como uma escolta que vinha desde Bone Village e garantiria a segurança
até a entrada da nova ilha.
Chegando em Firebrick, o barquinho
sumiu de vista, indo para outra costa e a garota fora levada até o
pronto socorro local, onde retiraram a camisa-de-força e a deitaram. Um
pagé, o Doutor Bid Surusky sentou próximo a ela e começou a conversar,
enquanto a menina falava com ele e tinha devaneios, ouvindo coisas que
ele não falava e seguindo um monólogo comprido.
Ele anotava suas
reações e dava poucas drogas para ela, mais pela área da noite, que
ajudavam-na a dormir de forma calma, pois tinha muitos pesadelos em que
acordava gritando, ou se debatendo. Bid sabia que ela tinha passado por
muitas coisas e fazia seu melhor em ajudar em sua sanidade, aos poucos
centralizando sua mente na realidade ou pelo menos fazê-la parar de
falar sozinha.
Anos de terapia ocorreram e com vinte e dois anos,
ela já estava ajudando no hospital, como uma forma de ajuda-lo (mesmo
que seus conhecimentos médicos fossem totalmente inúteis), levando
remédios para ele, mas mesmo assim ela tinha um jeito que não se
encaixava no local, pois não tinha medo em encarar bandidos mal
encarados que apareciam no hospital atrás de drogas e sempre se
esforçava quando recebia uma ordem que deveria ser executada rapidamente
por qualquer que fosse a emergência.
Usava roupas locais, tendo
seus cabelos compridos e roxos amarrados em uma trança comprida, calças
jeans e camisa xadrez mais comprida que ficava para fora. De qualquer
forma, isso a incomodava, mesmo que tivesse passado oito anos naquela
ilha. Diversas vezes seus olhos doíam pela luz solar (que era quase que o
oposto em termos de luminosidade, diante de sua ilha natal), já que
quase não havia árvores ou prédios grandes para descansar a vista
embaixo de uma sombra.
Certo dia, um grupo de homens de terno,
óculos escuros e chapéus apareceram lá e pediram para que ela os
acompanhasse. Meio indeciso, Bid ficou confuso, mas nada fez, deixando
que ela escolhesse por si só, pois ele nada mais era do que um médico e
ela já era uma adulta, sabia o que fazer sem ter que ser mandada.
Aceitou e os seguiu, tendo uma pistola escondida em suas vestimentas.
Foram
até um bar, onde foram juntos até o banheiro. Dois homens adentraram e
expulsaram quem estivesse lá e logo todos entraram juntos. Ela já
esperava pelo pior e colocou a mão no cabo da arma. Logo, um homem se
apresentou com um nome oriental, sendo que ele não tinha
características, era como um codinome. Pediu para que ela desse sua
naturalidade e contasse um pouco mais do que ocorrera. Falou abertamente
de onde vinha, mas não comentou sobre os anos passados na capela do
centro da cidade. Os homens ficaram intrigados, pois esperavam por
alguma coisa a mais, mas mesmo que fossem diretos, ela não conseguia
responder com sinceridade, tendo um bloqueio mental. Sua ignorância
perante o caso era tão convincente, pois sua atitude não mudava, que os
homens desistiram e sumiram por algum tempo após deixa-la.
Quase
um ano depois, ela pegou um navio para Jervan com o dinheiro de
pagamento que recebera de Bid. Lá, ela iria querer mudar completamente
de vida, tentando tirar de sua mente Bone Village e mesmo, Firebrick
Island que ela só chegou a conhecer graças aos ocorridos em sua ilha
natal.
Pagou por uma viagem aleatória, onde viveria em qualquer outra ilha, desde que não fossem aquelas duas.
Durante
sua viagem, quis ficar no convés a fim de ver o mar. Era incrível e o
melhor momento para vê-lo era quando escurecia, pois assim, o reflexo do
Sol não batia na água. Por vez ser calmo e a viagem longa, ela ficava
muito tempo na superfície do navio. No segundo dia de viagem, algo
chamou sua atenção: no horizonte, algo se movimentava sorrateiramente,
como se os seguisse. Isso a incomodou e ela logo chamou um mestre de
bordo para averiguar se ele não via o mesmo e fora reconhecido que era
um barco que os seguia. Logo ele tocou o sino e anunciou por piratas.
Todos
os marujos a bordo se armaram de como era possível e pararam o navio,
aguardando que os piratas se aproximassem e um combate se iniciasse. O
barco, ao notar que fora visto, logo mudou a rota e hastearam uma
bandeira branca, que fora anunciado por um homem que ficava no topo do
mastro principal com uma luneta. Todos se sentiram aliviados e foram
dormir, o mestre de bordo agradeceu a preocupação da garota e logo ela
abriu um sorriso, entendendo o medo que os piratas causam na população.
Assim
que colocou os pés em Jervan, notou que ali teria de trabalhar duro e
logo, procurou um emprego de auxiliar de construção, onde fazia seu
melhor em ajudar os trabalhadores, porém, muitos diziam que ela seria
ótima para a arena nos andares inferiores.
Seu chefe, um homem
grande e gordo que carregava toras embaixo do braço como se fossem
palitos, aproximou-se dela e lhe disse que não havia futuro para ela
ali, todos queriam vê-la nas arenas, por ser uma mulher e ter um corpo
atraente. Recebera uma folga e foram juntos até Umuos, onde ele
apresentou o local a ela.
Ficou enojada com a baderna e sujeira
que era vista ali, muito diferente de Bone Village que era sempre limpa,
mas o céu escuro a agradava. Ele a alistou em uma luta, contra a
vontade dela, a fim de ver o potencial atlético da garota e até onde
conseguiria lucros em cima do esforço dos outros.
Em sua primeira
luta, tinha de vencer um boxeador, onde ele ficava pulando
incessantemente e ela desviava na medida do possível ou se defendia dos
ataques. Aquela série de pulos o ajudava no ritmo, mas cansava o corpo,
ainda mais atacando diretamente. Assim que ele conseguiu coloca-la
contra a parede e desferir diversos socos, ela virou o corpo e recebeu
muitos golpes nas costas, mas deu uma cotovelada próxima ao esôfago, que
fora o suficiente para tirá-lo de combate. Estava toda machucada e
dolorida, mas conseguiu vencer o primeiro combate, recebendo em torno de
setecentos mil berries para seu chefe, que antes que ele a apostasse em
outro combate, ela pediu que ele comprasse armas e uma roupa nova para
ela, de forma que ele escolhesse a roupa e ela a arma.
Claro, ele
escolheu a mais sensual que achou e ela, preferiu por uma foice, não
sabia dizer o porque, talvez pela imagem da morte com uma arma daquelas,
que automaticamente relembrava sua vila. Por mais que ela fizesse força
em esquecer, ela sabia que estava atada às trevas do passado.
Logo,
ela pediu para se trocar e levou sua arma junto, trocou de roupa,
deixou como pagamento a sua antiga e fugiu dos olhos do homem, que agora
tinha perdido uma trabalhadora. Ele era chefe do setor em que ela
trabalhava, mas não tinha poderes o suficiente para organizar uma caçada
atrás da garota, fazendo com que ela ficasse simplesmente a própria
sorte.
Sozinha, em uma cidade escura e violenta, tendo apenas uma
foice em mãos e sua sorte, ela começava sua jornada para fora de Umuos,
Jervan.
segunda-feira, 27 de maio de 2013
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