terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

História dos Três Shougais (Parte do Linus)

Como posso me apresentar? Provavelmente já tive muitos nomes e apelidos. É, muitos. Meu nome original era Akira Ryukan. Contarei aqui, como perdi esse nome e adquiri o atual, Shougai Linus, ou apenas Linus, como todos realmente me chamam. Minha história é um pouco conturbada e cheia de decisões incertas e talvez, para alguns, incorretas; imaturas. Mas foi através dela que eu trilhei meu caminho e confesso que não me arrependo.

Há muito anos atrás – falo em média de 15, 18 anos ao menos – eu vivia em uma casa aconchegante. Não muito grande, mas o suficiente para dar o conforto que eu precisava. Confesso, não era nada de mais e eu fui descobrindo aos poucos a infelicidade. Meu pai era um viciado em trabalho. Não o culpo, afinal, o desaparecimento misterioso de minha mãe só o fez cair ainda mais naquele mundo louco e desgastante. Se eu tinha um amigo, era apenas o meu cão, que já não lembro mais o nome e que veio infelizmente a falecer faz algum tempo. Nada contra ele trabalhar, mas ele fazia isso sem necessidade. Tudo bem, éramos uma família “feliz”, mas o choque psicológico que ele teve quando minha mãe simplesmente se foi, fora tremendo. O quarto dela, por exemplo, acho que está trancado até hoje, afinal, não o vejo faz longos anos.

Até um tempo tudo aquilo foi ficando insuportável. Agora eu não necessito tanto, mas geralmente toda criança queria um pouco de atenção. Sendo eu um largado em minha própria casa, a mercê do desconhecido – pois afinal, ainda era pequeno, cerca de cinco ou seis anos – não foi difícil me virar sozinho. Afirmo que ganhei minha independência cedo e que isso pode ser um ponto ruim na vida de qualquer garoto, pois é realmente dessa forma o mundo real te atinge. Eu apenas o descobri cedo demais.

Bem, já é possível notar que meu pai não me dava muita atenção, e depois de um tempo eu não clamava mais por isso. Ficava no meu canto, assistindo os programas inúteis da TV e comendo minha comida travosa, que pra mim estava uma maravilha, uma vez produzidas pelas minhas pequenas e não tão inocentes mãos. Só que todos, acreditem, todos, até uma criança de seis anos, tem seu limite. Comigo não fora diferente. Ver meu pai falando que toda vez que me via, lembrava o ódio e a dor de ver em minha mãe, foi o ápice.

Ah, minha mãe. Tez bem branca, olhos azuis e cabelos ruivos. Herdei a cor da pele e dos olhos, contudo meu cabelo fora perdendo a vitalidade do vermelho, sobrando apenas algumas mechas. Maldita genética. Até hoje não sei o motivo de seu desaparecimento, concordo que tenho vontade de conhecê-la novamente, afinal, deve estar mudada, outra mulher. Isso, porém, não muda meu estado de felicidade atual. Mas voltando ao assunto que realmente interessa, acabei por fugir de casa. E eu acho, essa foi a escolha mais correta da minha vida.

Seis anos, coloquei pela primeira vez os pés naquele chão, ora arenoso, ora cimentado. Irregular e por vezes único. Medo, euforia. Indescritível. Meus olhos azuis se abriam em dois orbes grandes e assustados, penetrando naquele mar de gente e os ouvidos chegavam a doer, sensíveis aos gritos dos comerciantes, vendedores. O triste nisso é quando você perde o equilíbrio das coisas. Aos poucos o medo foi se sobrepondo a toda aquela emoção contínua. Eu estava só novamente, porém, livre dessa vez. Bati no peito, respirei fundo e dei o primeiro passo. Alguns dias depois, fiquei sabendo por alguns boatos que meu pai tinha subido de vida, arranjado algo melhor para viver e uma nova mulher. Sobre mim, porém, nada dito.

Acostumei-me com a idéia de que agora era apenas eu. E isso foi muito difícil. Broncas, surras e pancadas violentas de me deixar com o olho roxo, até chegar à perfeição de roubar aquela maça ou pêra para servir de alimento. Era o único jeito. Agradeço isso por sinal, meu corpo e pele se tornaram resistentes, ainda mais depois dos treinos do exército – calma, ainda vou chegar lá. Não demorou para que eu começasse a criar alguma amizades e eu vi que minha situação poderia ser mais comum do que pensava, mesmo que chegássemos ali por diferentes conseqüências. A questão é que agora, eu não era mais Akira Ryukan. Lembrei-me do meu cão. Tão humilde e miserável. Às vezes os animais têm tanto haver conosco, suas condições, sentimentos e até a fúria embutida em uma face doce. Pode parecer meio banal, mas acabei adotando seu nome: Linus.

Seguiram-se mais alguns meses naquela situação, mas você tem de saber que para a sociedade, seu estado muitas vezes não importa. Pode ser rico dos maiores bens já visto, mas se ninguém souber e você acabar por ser confundido com um mendigo ou criminoso, não existe escapatória. Cada um dos meus “amigos” era de famílias prósperas. Não tinham muitos objetivos, mas assim como eu, faltava-lhes o amor. No fim, cada um pereceu. Morreram, ou foram capturados. Eu era um deles, sim. Mas não queria ir no mesmo destino, e talvez o próprio tenha sido um tanto solidário.

Fazia um sol filho da mãe. Não sabia que horas eram. A barriga roncava e os lábios estavam secos. Um dia e meio sem nenhuma alimentação, sério, eu estava um trapo. Lembro-me vagamente deste dia e por isso conto com poucos detalhes. Avistei uma casa ao longe, com tantas outras do lado, eu não quis saber. Era teimoso, eu vi aquela e vai ser aquela. Subi os pequenos degraus de uma escada de madeira desgastada e já desbotada pelo tempo. E com as ultimas forças que podia ter, bati à porta. A ultima imagem que me lembro fora de uma garota. Olhos escuros e cabelos curtos, castanho claro. Pele branca e tão... Frágil. Os olhos com certa curiosidade e alguém do seu lado. Uma mulher muito importante em minha vida, diga-se de passagem. Sem forças, acabei por apagar ali mesmo, só acordando tempos depois em uma cama. O que estaria acontecendo?

Ah, acabo-me de lembrar. O cheiro de comida gostosa. Sim, sim o cheiro indescritível do peixe e do arroz. Não sabia se era a fome ou alguma coisa relacionada com um provável dom, mas agora não importava. A comida se aproximava. Quando finalmente apareceu, a senhora idosa também veio junto com a garotinha. Meus olhos se fixaram nela por um tempo, exibindo um leve sorriso de canto de boca. Recebi o peixe e o arroz e logo em seguida, das mãos da menina o suco. Ajeitei-me por ali mesmo e não fiz cerimônia, tratando logo de devorar aquilo tudo. Realmente, como um animal. O sabor era único, afinal, aquilo era manjar dos Deuses comparado à minha comida. Até hoje, é minha comida predileta. Estava tão concentrado naquele momento, que mal percebi que a garota acabou descendo e que eu estava ali, sozinho novamente, contudo, sentia no ínfimo do meu ser que aquela seria a última vez.

Bom, daqui em diante posso dizer que minha vida melhorou significativamente. Desenvolvi o gosto pela leitura, mas o fazia sempre escondido dos outros. Vez ou outra apenas Amaterasu sabia de minhas empreitadas fantasiosas. Contribuiu para melhorar minha leitura e compreensão das coisas. Descobri também que estava em um orfanato e que algum dia eu poderia sair dali com outras pessoas, mas no fundo não me importaria de viver ali pra sempre mesmo que isso fosse impossível. A senhora que cuidava de nós já tinha certa idade e então, quanto mais velha, as coisas complicavam. Isso fazia crescer uma pequena preocupação em mim, mas era rapidamente esquecida.

Vale dizer que eu também não era muito sociável, apenas conversava com três pessoas. Sim, três: Amaterasu, a senhora que cuidava do orfanato e... Tsukihime. Tsukihime era outra criança intrigante do local. Vivia sempre com Amaterasu e cuidava bem da mesma. Isso dava um tanto de inveja e às vezes me fazia ficar novamente pensativo nos rumos que eu tomei, mas por sorte foi passageiro. Descobri um tempo mais tarde que as duas eram irmãs de sangue. Isso ocorreu à medida que comecei a me enturmar com as duas. Tsukihime era de um perfil muito mais calmo e controlado. Amaterasu começou assim, mas não durou muito tempo. Os tempos foram muito bons, brincadeiras, risos, broncas e brigas. Sim, eu era o mais cobrado dali, pois vivia brigando e arranjando confusão. Se eu parar para analisar desse modo, fica evidente que eu tinha aquela afinidade megalomaníaca para arranjar confusão e não perdia uma boa briga. Ao mesmo tempo, Amaterasu começava a se dedicar na cozinha, e eu desde cedo já achava que era esse seu real dom. Começou a ajudar também a senhora do orfanato na organização e comando do “quartel”. Tsukihime por sua vez era uma excelente tocadora de piano. Compunha e tocava musicas melodiosas e tocantes. Era simplesmente maravilhoso sentar no humilde carpete da sala e ficar horas escutando nota por nota compor uma linda canção.

Minha época de ouro, aposto que você já teve a sua. Parecia, todavia, que o destino estava vindo cobrar seu favor, e eu achei isso injusto demais. Mas tudo tem um propósito nessa medíocre vida, pelo menos é o que eu acredito. Os anos foram se passando e eu fui construindo meus valores e amadurecendo minha mentalidade. Compartilhava mais coisas com minhas praticamente irmãs naquele lugar e mesmo com ela, sentia que o circulo ia fechando. Os outros garotos e garotas começaram a ir embora. Um casal vinha, escolhia a dedo – novamente a questão dos animais, meros animais, com apenas um diferencial, a promessa de uma vida melhor e com todos os atributos benéficos que podiam ter. E então a linha se seguiu, até que chegamos a ficar praticamente só nós três no local. Alguns poucos se recusavam a sair. Aquilo me deixou mal com a possibilidade de ocorrer com um de nós.

Lembrei-me agora de um fato isolado que aconteceu com Amaterasu. Conversa vai e vem e o assunto recaiu em meu passado. Não só no meu, mas por enquanto vamos focar nisso. Eu fiquei receoso em dizer, não queria. Relembrar de tudo aquilo não era bom. Mas ela insistiu, sempre foi um pé no saco até hoje e eu me pergunto de onde tiro forças todo dia para agüentar a criatura. Preferia-a menor... Ligeiramente inocente, sua fragilidade externa e uma energia infinita por dentro. Contudo, o sentido de amor nunca diminuiu. O tom de conversa era baixo e minha voz saia amarga vez ou outra, mas nela eu confiava. O resultado daquela noite repercutiu até hoje. Tornamos-nos irmãos. Essa fora a proposta de Amaterasu antes de eu pegar no sono. E claro, eu aceitei.

Aquilo ajudou eu levar mais alguns meses em uma vida tranqüila. Agora nós três estávamos mais juntos do que nunca e eu finalmente me sentia completo com nunca senti em todos aqueles anos ali dentro e fora. Até que tudo fora arruinado. Foi assim que eu enxerguei, mas atualmente vejo que fora bom pra eu amadurecer mais ainda. O dia estava feio. Nuvens pesadas e cinzentas cobriam o céu anunciando um temporal violento. Eu estava dentro da casa com um moletom me encolhendo todo. Duas batidas na porta me despertaram do gostoso sono. Levantei-me e abri a porta. Era um casal. Ternos, elegantes, um casal bonito e via-se de longe, bom de posse. Logo a velinha apareceu e tomou meu lugar. Convidou-os para entrar e eu voltei para o meu lugar. Assim que sentei um relâmpago chicoteou ao longe e o observei pela janela. O temporal havia iniciado.

Estranhamente, Tsukihime e Amaterasu foram chamadas. Tsukihime tocou algumas musicas e Amaterasu os olhava curiosa. Não demorou para que o pior se concretizasse bem diante dos meus olhos. O casal tomou as duas pelas mãos. Meio peito ardeu em uma dor descomunal. Não chorei, mas por dentro a lágrima vinha como sangue. Em um impulso Amaterasu soltou-se e veio em minha direção. Eu não me lembro da reação dela. Não sei se ela chorou, sorriu ou fez algo do tipo, mas no meu âmago eu senti ódio. Incompreensível. A abracei com força dizendo algumas palavras de despedida. E logo em seguida, Tsukihime chegou. Ficamos os três ali, por um tempo, aquecendo-nos naquela tarde chuvosa, até que havia chego a hora da partida. E no meu aniversário de 11 anos, eu nunca me senti tão sozinho.

Seis anos depois ~~


Passaram-se seis anos, mais ainda não havia um dia que eu não fosse dormir olhando para o retrato de nós três. Eu carregava comigo sempre uma lembrança e carrego até hoje. O presente foi de Tsukihime. Um colar com três pedras verdes em formato de folhas. Um fato interessante é que sempre gostei da cor verde por algum motivo desconhecido. Estranhamente, naquele momento Tsukihime me fazia muito mais falta que Amaterasu. Eu convivi muito com as três, contudo, as brincadeiras e provocações eram sempre com a caçula. Nunca me atrevi a mexer com Tsukihime, por alguma razão eu a respeitava realmente como irmã mais velha. Hoje isso mudou um pouco, mas o respeito ainda é algo que prezo.

Sentia falta de suas melodias alegres e até as melancólicas. Sentia falta das broncas e alguns puxões de orelha – sim, ela puxava. Aquela calma e tranqüilidade... Nunca pensei que um dia eu poderia sentir falta disso. Foi realmente difícil eu me adaptar. Dos antigos garotos, só eu estava ali. Ainda existiam muitos garotos novos, contudo, bem menores. Eu assumi o dever de cuidar da casa. A senhora estava muito doente, mas tive a notícia de que outra pessoa chegaria para administrar o local. Enquanto isso dividia minhas tarefas entre a administração da casa e os cuidados com a anciã. O período foi complicado, afinal, eu não estava acostumado com isso. Tsukihime e Amaterasu cuidavam dessa situação. A cara das crianças era de desgosto quando “saboreavam” minha comida, mas não havia nada que eu pudesse fazer.

Desse dia em diante, eu não acreditava em destino. Escolhi a sorte. Era mais fácil aceitar, ao menos pra mim a sina de que eu não era tão sortudo. Tudo, contudo, tem sua exceção e nesse dia, era seu dia de sorte, dia de quebrar as regras; o tabu. Ao menos um dia na minha vida tinha que ter. Duas batidas na porta, novamente. Aquilo levantou uma sensação estranha em mim. Levei os olhos ao relógio e era quase a mesma hora de seis anos atrás. Balançei a cabeça tentando tirar isso da mente e segui pra porta, abrindo e dando de cara com ninguém menos do que Amaterasu. Toda minha vida passou em um flash na minha cabeça e sim eu lembrava de tudo com perfeição.

Esse fato é realmente verdade. Em minhas leituras descobri algo chamado de Memória Eidética ou fotográfica. De modo surpreso soube que eu era um dos privilegiados com a dita cuja. Minha capacidade de memorização era incrível, coisas vistas e ouvidas não pareciam sair de minha mente, ficavam ali, impregnadas e naquele momento diante de sua irmã caçula não fora diferente. Lembrei-me dela pequena, aquela timidez, os olhos negros grandes e introvertidos. Estava tão diferente agora. Mais alta – não maior que eu, ainda faltava muito. Mais bonita, mais madura. Em um primeiro impulso me joguei em cima de dela. Não caímos no chão, mas foi por pouco. Abracei com todas as forças que eu tinha. Provavelmente a machuquei um ponto, afinal, com 17 anos agora, minha constituição física devido aos trabalhos braçais estava diferente. Estava mais alto, mais forte e com uma peculiar bandana verde na testa, mas isso era apenas para enfeite.

Seu próximo intuito foi procurar pro Tsukihime, mas ficou evidente que ela não estava ali. Chamei-a para dentro e a felicidade da velinha em vê-la ali foi única. Conversamos um pouco e fiquei atualizado sobre os seis anos que perdi. “Nossos” pais se separaram. Tsukihime ficou com a mãe e mudou-se para Misthrall. Amaterasu ficou com pai, mas por pouco tempo. Acabou por ingressar no exército e adquirir independência, apesar de ainda ter contato com ele. De forma resumida, tudo estava bem, mas era evidente a preocupação de Linus com Tsukihime, uma vez que o reino onde se encontrava era um reino instável sempre em busca de expansão e em constantes guerras.

Como prometera, ela havia voltado para me buscar e chegara minha hora. Arrumei as coisas e fui me despedir da velha. Em alguns dias a substituta chegaria e tudo estaria nos conformes. Sobre as crianças, alguns rostos tristes, outros felizes. Nunca mais teriam de provar minha comida. Mas o momento de partida não deixou de ser triste. Tantos anos naquela casa, tantas histórias e aventuras. Um aperto se formou no meu coração naquele momento, mas agora eu me sentia diferente, me sentia com o dever cumprido. Depois de algumas lágrimas derramadas, partimos então, para possivelmente nunca mais voltar.

Quatro anos depois ~ ~


Agora vou falar dos períodos mais atuais. Depois da minha saída do orfanato, me estabeleci na casa de Amaterasu, tinha espaço suficiente para nós dois. Assim como ela, me inscrevi no exército. Ela como cozinheira e eu como soldado. Minha maior evolução foi lá dentro e foi lá também onde adquiri meu status atual corporal, assim como aprimoramento de minhas habilidades e a capacidade da utilização de magia. Esse segundo ocorreu através de uma inscrição em um grupo beta de testes. O custo da inscrição foi dado por meu “pai” mesmo que nos quatro anos que ali vivia, não tinha muito contato com o mesmo.

O teste era sobre a implantação de cristais no corpo humano com objetivo de obter um exército melhorado, que pudesse combater em situações difíceis com o auxílio dos cristais, superando alguns limites humanos. Os cristais trabalhavam de forma diferente em cada corpo, no meu não foi diferente. Levei anos para me acostumar e conseguir controlar os meus “poderes”. Isso ocorreu devido ao uso da magia do cristal estar relacionada direta com o meu organismo e metabolismo. Uma das únicas coisas que eu consegui fazer fugir desse padrão com muito esforço e com a ajuda de cientistas e testes, foi estender o limite do cristal para fora do corpo.

Deixe-me explicar melhor e de uma forma bem mais simples: Eu conseguida jogar a magia do cristal para fora do corpo. Uma fina camada azul que crescia igual a uma bola, ou circulo, como preferir, tendo eu no centro. Funcionava como um radar. Eu conseguia sentir as coisas ao meu redor, mas isso foi uma tortura. Era complicado se concentrar com muitas coisas no espaço. Pelo que sei Amaterasu também tem cristais em seu corpo, mas os obteve por um processo completamente diferente, assim como adquiriu habilidades diferente.

E chegamos ao fim. Ainda continuo no exército, os testes foram um sucesso e em quatro anos consegui grandes avanços no controle de minhas técnicas, mas ainda falta um longo caminho pela frente. Ainda sinto saudades de Tsukihime, mas ao mesmo tempo sei que ela pode se virar sozinha, só gostaria de vê-la, de poder reencontrá-la. Afinal, é minha irmã. E em toda essa história, ainda mantenho dois objetivos: Reencontra minha mãe e ajudar o orfanato. Certamente existem outros, mas esses são os primordiais e não vou parar, até alcançá-los.

Hora de ir, espero que tenha apreciado um pouco da minha vida. Eu até contaria mais, só que o Capitão acabou de chamar meu nome e não parece muito feliz. Prometo que em um próximo reencontro, conto mais. Até outro dia!

Charlotte Piper, Uma Succubus no Castelo Real

Sua mística existência teve origem nos desejos luxuriantes dos humanos, que sonhavam tantas vezes com perversões das mais íntimas ou sujas. Charlotte nasceu do acúmulo de ideias que sondavam os céus noturnos, tomada já com um corpo de adulta e com uma mente vingativa e sedutora, sendo infantil em diversos casos por desconhecer tudo além dos objetivos prazerosos e traiçoeiro dos humanos, tornando-a apenas um objeto desgraçado.

Pulava de sono em sono, seduzindo homens e mulheres, a fim de tirá-los a vida após alguns momentos de prazer, ou simplesmente por ver a insatisfação de suas faces incrédulas diante de seus fetiches contraditórios e anormais. Tinha prazer, acima de tudo, em estudar a reação humana, pois tudo aquilo que tanto sonhavam em ser ou fazer, agora vinha contra si, machucando-os, torturando-os e excitando-os até os limites do pesadelo e fazendo com que acordassem com um sentimento estranho.

Ria ao fugir por entre as dimensões, usando suas mãos que tinham tal poder (que mais tarde iria por agir em todo seu corpo) enquanto salivava pelo desejo de mais e relembrava os atos e os dizeres de suas presas.

Abusava tanto de tal poder, que certa vez, em um erro dimensional, acabou por encontrar um combate entre duas criaturas estranhas que se estraçalhavam a bocadas, mas logo se recuperavam, continuando a luta como se voltassem no tempo e estivessem perfeitas. Era surpreendente vê-los e assim, sentou e assistiu como faziam suas técnicas, aprendendo apenas no olhar e treinando secretamente para si.

Sempre que terminava suas diversões com os humanos, fazia de passatempo assistir aos combates das feras que lutavam supostamente sozinhas numa dimensão “somente suas”, desconhecendo que haviam outros com poderes de adentrar em tais “mundos”. Fez disso por anos, divertindo-se enquanto recuperava o corpo com descanso, como alguém que assiste a um filme de ação.

Notando que aqueles seres estavam começando a enfraquecer, pareciam cansados e envelhecidos, por mais que usassem habilidades para trazer semelhantes para substituir seu lugar naquele mundo. Aproximou-se pela primeira vez, como uma criança curiosa ao brinquedo de outra. O animal virou-se raivoso e o outro agarrou-se no pescoço do inimigo, caindo gorgolejante pelo sangue arroxeado que no momento em que tocava o chão, secava e virava uma espécie de pasta com casca quebradiça.

Não vendo outra opção se não lutar por sua vida (ou o que pudesse chamar de existência), notou que o ser agarrava a si mesmo e puxava de seu peito um novo herdeiro, parecido consigo e logo ambos iam para cima dela. Assim entendia que aquele monstro que ele sempre lutava era a si mesmo, treinando com um adversário que conhecia todas suas habilidades e movimentos. O envelhecimento e cansaço era dado por si próprio e com o acúmulo de anos.

Logo que viu que não daria conta, desarmada, contra dois adversário que tinham habilidades semelhantes, logo abriu uma fenda no espaço e surgiu, como que do nada, numa rua em Herantia, uma garota corria com suas vestes chamativas e sedutoras, que grandes passos grosseiros a seguiam e ninguém via o que era.

Ela olhava para trás e via as duas feras que eram como uma mistura de lobo com lagarto a seguindo e ninguém notava sua fisionomia. Não havia lugar para se esconder, mesmo na troca de dimensões ou por ali, o máximo que podia fazer era esperar que algum ser com os mesmos poderes ajudassem-na.

As pessoas, assustadas pela correria e a barulheira que a seguia, assim como um rastro de destruição, chamaram ajuda dos Schneiders que obedeciam à princesa do reino. Todos estavam em missão ou impossibilitados de assumir tal missão e com grande honra para aquelas pessoas, a princesa em pessoa colocou-se a assumir aquela briga invisível. Sua velocidade era comparável a de Charlotte, que logo corriam lado-a-lado. Vendo a princesa e não sabendo se via ou não o monstro, logo ela puxou a dimensão para o lado, gritando “Golden Golem” e chutando a dimensão para quebra-la. Isso fez com que a criatura caísse no chão com a mudança repentina e nisso, Galatea notou que algo a perseguia e fez um movimento cego com sua Claymore, decepando a perna do monstro.

Ele parecia ter treinado a vida inteira para aquele momento, pois após a perda da perna, seu corpo se enrugou e morreu. Aquele não era o verdadeiro. O real, pulava atrás da princesa em um ataque surpresa e agarrava a Charlotte, que colocava-se no caminho daquela pessoa indigna da morte. Cravando suas garras nas laterais do corpo da Sucubbus, que gritou de dor e logo morreu. Vendo agora que algo suspendia a garota no ar, usou apenas um único ataque para que houvesse um fim naquela fera.

Fora possível ver o monstro, que caía pesadamente no chão. Seu sangue tinha o mesmo jeito do que acontecia na fenda dimensional e aquilo era uma surpresa para muitos que observavam com esplendor e incredulidade o combate.

Charlotte caía por entre os dedos do ser e Galatea via que não havia o que fazer, mas algo aconteceu, uma segunda saia do corpo morto, como se nada tivesse acontecido. Ela tocava em seu corpo a fim de ver se havia algum ferimento, mas estava completamente perfeita, até sua chamativa roupa estava em ordem. Vendo que aquela criatura sobrenatural ajudou-a a derrotar um inimigo maior, aproximou-se do corpo do monstro e puxou um dos ossos dele, dando a ela e virando-se para um homem, mandando que fizesse a arma que ela quisesse com propriedades mágicas especiais para seu estilo de combate, pois ela seria a nova servente e Schneider sua.

Houveram alguns meses de aprendizado nas artes da guerra, diplomacia e perdas de costumes mal vistos pela sociedade, mas com esse pouco tempo, tornou-se uma boa guerreira com algumas manias debochadas.

A.S.S.A.U.L.T., Modelo de Combate

Dados gerais: Modelo

Começando os relatos do modelo “A.S.S.A.U.L.T.”. Meu nome é Thomas King e trabalho como cientista chefe nas corporações de estudo e tecnologia do grande sistema de Aoi, comando a missão de construir um soldado com capacidades sobre-humanas e mesmo assim, de aprendizado e força de vontade. Meu setor é o UK0201 e o supervisor de testes é o Sr. Michell Müller.

Foram dois anos de estudos e testes, muitos do meu grupo tiveram de levar trabalhos para casa e tivemos auxílio de outras empresas a fim de melhorar a guarda de nossas terras. Não procuramos guerra, mas caso seja necessária, esperamos estar bem protegidos e com soldados eficientes e com poderio surpreendente e diferenciados.

O modelo A.S.S.A.U.L.T. tem como prioridade sua mutação material, podendo modificar quase que todo seu corpo a fim de criar armas a partir do simples toque. Grandes poderes estão empregados nas mãos metálicas do soldado, podendo fazer descargas quentes para melhor funcionamento e a mutação de suas partes.

Em seu interior, é encontrado nanorobôs feitos para serem tanto armas quanto ajudantes. Podem reagrupar átomos de metal de seus braços a fim de combinar com alguma arma de tecnologia inferior para criar algo mais potente, usando como combustível o próprio núcleo que tem uma proteção e poder especial, contendo mais potência que um tiro comum de plasma ou choque.

Sua armadura é resistente ao frio, calor, água, eletricidade e diversos tipos de problemas naturais, podendo assim, serem criadas separadas a fim de nossos próprios humanos e cibórgues possam entrar em combate ou expedições em lugares mais extremos e radicais.

Sua fonte de energia vem de um núcleo que é alimentado por luz solar e caso seja necessário, ainda há um carregamento secundário de carregamento por baterias, podendo serem agregadas em sua armadura correntes elétricas para reabastecer as energias.

Seu corpo não foi adaptado para regiões aquáticas, apesar de não ser prejudicado por grande quantidade de água, mas sim pela pressão que há no fundo dos oceanos que esmagaria totalmente o corpo. Locais de calor extremo também são impossíveis de se lidar, mesmo que sua resistência ao calor seja bastante poderosa (poderia suportar a queimaduras feitas pela fumaça de um vulcão, mas jamais poderia entrar em contato com a lava).

Dados gerais: Lethal Touch

Muitos estudos foram feitos desde suas modificações. Seus modelos anteriores, conhecidos por serem soldados limitados nas artes do combate, tendo somente aperfeiçoamentos em ataques a longe distância. Ao integrarmos o sistema “Lethal Touch” (nome empregado e escolhido no último relatório, onde ocorrera uma reunião com os chefes da torre central) onde descarrega sobrecargas do sistema mecânico nas extremidades superiores do soldado, ele poderá diminuir o calor interno de seu núcleo e desferir em golpes ou simplesmente na descarga em si.

O Lethal Touch é um sistema revolucionário para que não hajam aberturas na armadura do soldado, fazendo com que em qualquer momento seja possível a sincronização de resfriamento e aquecimento sem danificar o sistema.

Podendo também ser usado em combates por ter propriedades de temperaturas elevadas demais que pode irritar a pele de criaturas orgânicas ou prejudicar sistemas de outras unidades robóticas simplesmente pela troca de temperatura repentina, formulando uma espécie de choque térmico no corpo rival.

A palma do modelo não é prejudicada por ter fibras que podem ser superaquecidas até níveis extremos e mesmo assim não derreter ou sofrer deformações, o único momento em que há desvantagem para si é no uso de nanorobôs para a modificação e criação de objetos, matando-os imediatamente.

Unidade de reconhecimento: Visor

Por haver luz em seu visor, consegue enxergar no escuro sem necessidade de troca de elmo. Diferente dos modelos anteriores que tinham a visão noturna e de calor, este consegue ainda configurar alvos, tendo em seu banco de dados procuradores.

Amplificadores e melhoramento de qualidade de Zoom, podendo ver mais longe e sem desfoque. Assim como visão em quadros, podendo amplificar um determinado local e colocar para um canto em seu sistema, sem atrapalhar durante um combate e podendo prestar atenção em outros pontos.

Seu visor tem uma proteção especial de prata derretida e sintetizada para que qualquer um que olhe diretamente tenha seu reflexo visto, isso ajuda também na manutenção manual, mesmo que dificilmente tenha de ser feita.

Unidade de reconhecimento: Cérebro e funções

Diferente de seus antecessores, sua capacidade de “visão do mundo” não é tão submissa. Não que isso chegue a ser um problema para nós que trabalhamos neles, na verdade, fizemos um backup em seu histórico durante a construção do cérebro eletrônico e colocado um programa com fins de segurança, assim como uma unidade nanotecnológica para X atividades, mas isso é para outro tópico.

Nossas leis estão encravadas no banco de memória e só podem ser esquecidas com modificações feitas na estrutura mesma, pois foi criador junto, para fazer parte de um dos componentes primários.

Sua forma de pensar não é de uma criança que obedece seus pais, como também não é de alguém completamente sério. Há uma inteligência artificial pensante, onde o cérebro irá mandar sugestões para o que fazer e ele deve escolher dentre elas o que fazer e uma implementação, é a de usar nanorobos como espécie de células de pensamentos, fazendo com que ele vá além das sugestões dadas pelo sistema.

Unidade interna: Nanorobótica

Talvez uma das partes mais interessantes do corpo, são pequenos mecânicos que protegem o corpo de qualquer ameaça, sendo virtual ou física. Abençoados com tal tecnologia aqui nos laboratórios de Aoi, fizemos com que seu tamanho atômico fizessem com que a inteligência artificial deles não influenciasse na de A.S.S.A.U.L.T. e trabalhassem em igualdade, modelando pedaço por pedaço caso haja um prejuízo grave no sistema.

Em caso de hackeamento, eles protegerão o sistema principal da melhor maneira que acharem, procurando evoluir seus níveis de proteção sempre que possível e estar atualizados com os diversos tipos de vírus que podem adentrar nos servidores. Em caso de não conseguirem vencer, irão isolar a parte onde fora infectada e expulsar do corpo, literalmente e nesse caso, a autodestruição controlada para perca de dados nossos que trariam desvantagem em caso de guerras.

Outra função deles é a criação improvisada de armas, podendo sair por dentre os dedos do corpo principal. Não que sejam impedidos de atravessarem por entre os átomos, mas por motivos de agilização eles tem um caminho próprio. Podem criar armas de fogo (que utilizarão o núcleo como munição) e brancas (fazendo proveito do próprio braço para reforçar). Nesse quesito, eles apenas aprimoram com “a nossa tecnologia”.

Unidade interna: Hologramas

Podendo projetar uma tela para que seja visto seu rosto e de quem estiver comunicando, não tendo um potencial maior por motivos militares. O som é juntamente aperfeiçoado junto ao ambiente, mas a voz do locutor é amplificada para fins melhores de compreensão. Há também um decodificador simples para caso esteja em um local de difícil acesso e a comunicação seja quase impossibilitada pelo terreno.

Em casos extremos ou de tecnologia inferior, há somente o áudio para ambos. Comunicações durante combates estão habilitadas também, para que ele possa falar com seus colegas ou superiores sem ter que dar informações ao inimigo em gritos, sendo uma espécie escrita que aparece em hologramas para seus compatriotas.

Ficam instalados no peito, um pouco abaixo da cabeça e quinze câmeras internas (todas com um amplificador de som embutidos) e uma externa para melhoramento das visualizações e criação em 3D. Por serem quase que totalmente internos e tendo as mesmas proteções do núcleo, não é necessária muitos tipos de precauções em sua utilização.

Não há restrições aquáticas, caso seja necessária o uso, somente em profundidas abissais que a pressão prejudicaria todo o sistema, como já falado acima.

Unidade interna: Amortecedores

Pequenos propulsores nos pés fazem com que locais de gravidade zero sejam mais fáceis de se locomover e que grandes alturas não sejam problemas para saltos ousados (não é garantido algo extremamente além dos limites de suas peças, onde toneladas de peso gravitacional podem estar sendo exercidos no encontro com o solo).

Seu corpo metálico tem peso demais e isso o impede de levantar voo ou mesmo planar, mas com a força das turbinas é possível uma aparada e não mais que isso. Diferente dos modelos anteriores que após muito uso tinham chamas saindo, nesse processo é uma conversão de ares, como se usada uma corrente de ar empurrador e assim, não prejudicando o corpo físico.

Implementamos essa parte com fins militares, podendo ter uma fuga mais facilitada ou mesmo um empurrão no inimigo que tenha um peso muito esmagador.

Debaixo d’água pode ser usado para fazer o ato do nado, semelhante a um antigo torpedo submarino com hélices. A estrutura é bem protegida na sola (podendo ser molhado e pisado), tendo canais de fechamento em casos de interferência para que não seja estragado em imediato.

Análise final

Apesar do modelo A.S.S.A.U.L.T. ser uma unidade robótica que trabalha melhor sozinho ou com ajudar de pessoas ou robôs que tenham tecnologia de comunicação semelhante, consegue se modificar de acordo com o local onde estiver, sendo uma arma que pode trazer paz para as ações, medindo situações. É um modelo experimental que atuou bem na bateria de testes e relações e que resolvemos liberar cópias adormecidas (da qual podem ser desmontadas em caso de falha ou aprimoradas em caso de aprovação).

Apesar de serem soldados estritamente terrestres, são mutáveis e recebem ordens sem relutar, no máximo dando sugestões de ideias que possam trazer menos gastos (tanto econômicos quanto sociais). Seus sistemas de defesa e ataque são totalmente melhorados aos anteriores e em capacidade humana, seu corpo está muito acima, mas “mental”, ainda há de ver dentro de uma sociedade, mas mesmo assim não havendo de causar medo ou qualquer tipo de aflição para seus construtores.

Em caso de combate ou guerras, são exímios soldados que nunca serão pegos desarmados e que atuam em harmonia com um grupo semelhante.

Agradeço a ajuda e oportunidade que cada um deu para a construção e habilitação da unidade, esperamos uma resposta positiva de nossos superiores. De toda equipe do setor UK0201, encarecidamente apresentei a vocês a nossa novidade que durou um ano de estudos, Thomas King.

Relatório de apresentação feito por: Thomas King

Criadores: UK0201

Criadores de sistemas: Thomas King, Jaquelinne Huffs, Leonardo Taylor.

Equipe de suporte: UK0201.

Criadores do corpo: Thomas King, Milton Keit, Heather Jhonson, Kotsuma Saya.

Equipe de suporte: VK0090.

Grupo de Testes: UA0104

Supervisores: Michell Müller.

Kami Ween, Sem Palavras para a Crueldade

Kami Ween era um youkai sombrio e olhares malignos que cuidava da parte informativa diplomática de Arcádia, aos mandos de Dramol, líder da Elysium Order. Seu trabalho o deixava por dentro de todos acontecimentos dentro e fora do castelo e aos poucos um sentimento azedo crescia em seu interior.

Sempre fora um monstro e talvez tenha recebido tal obrigação para que seus movimentos pudessem tornarem-se mais diplomáticos e menos agressivos. Fazia bem o seu trabalho com um cinismo incrível. Gostava de viajar por outros lugares, mas odiava a forma como governavam aqueles reinos. De meses em meses seus serviços eram requisitados para fins demonstrativos, querendo deixar claro para todos os outros reinos de que havia um mútuo respeito entre si, mesmo que houvessem ideias contrárias, não interfeririam um com outro.

Talvez tivesse a mente de um ditador por querer unificar todos os reinos em um só, governados por apenas uma pessoa e diversos conselheiros e estrategistas. Ao menos fora assim que aprendeu lidando com tais pessoas e seus respectivos diplomatas que só se importavam com a imagem a ser passada, não eram ousados e trabalhavam em soluções para o povo. Eram egoístas, querendo somente melhorias para suas próprias terras, pedindo alianças ou recursos de outros apenas por oportunismo. Se fossem todos de somente um reinado, talvez fossem mais felizes.

Sabia que diante de egoísmo, o seu era superior, pois queria solidificar tudo em apenas um império. Tinha consciência disso, mas diferente dos outros, que tanto chegavam em seus limites, Kami queria ser o líder do mundo.

Ballore Malthas, a Demônia da Cidade dos Ossos

Nascida e criada em Bone Village, ela nunca pediu para ser perseguida por agentes do Governo Mundial, mas sua ligação com aquelas pessoas tão voltadas à religião bestial e possíveis atos não bem vistos pelo mundo, certamente fizeram com que ela se torna-se quem é hoje.

Sua história começou quando ainda era pequena, saindo da escola e indo direto para casa, onde em ambos os lugares, lhe era ensinada que tudo (ou quase tudo) eram obras do senhor das trevas. E isso não era uma coisa ruim, pois quem o fazia mau uso eram os humanos ignorantes que não compreendiam direito as obras e sabedoria superior de tal divindade sombria.

O ambiente escuro e úmido do lugar a incomodavam levemente, mas aprendeu a se entender com isso. Usava um manto negro comprido com capuz que se puxasse para frente, poderia até mesmo ser fechado (da qual muitas vezes utilizou de tal vantagem para tirar de vista os bonecos assustadores de Gepeto ou cenas que uma criança evita ver). Em seus sapatinhos havia um sabão grosso que em contato com água, deslizava sem grandes dificuldades e assim ela se locomovia com rapidez e pouco falava.

Sua figura era sombria, sendo uma criança de olhos vermelhos que preferia ficar nas sombras de seu manto a ter de falar com alguém, mas ela era somente tímida, pois quase tudo naquela ilha era totalmente assustador e poucos davam importância para isso. A convivência não a fazia se acostumar, na verdade, fazia com que um sentimento de desespero crescesse dentro de seu peito e mesmo que ela quisesse gritar ou chorar, sabia que isso não mudaria o cenário com a qual vivia. Seus pais se preocupavam com ela e a levavam na igreja a fim de receber bênçãos, mas ela tinha medo dos sacerdotes, que tinham um certo interesse nela por causa de sua doença ocular.

A visão dela nunca fora ruim, pois sempre viveu nas trevas e apenas luminosidades fortes demais a machucavam, coisas que pessoas com olhos normais apenas colocariam as mãos nos olhos a fim de criar uma sombra.

Não gostava de tirar o manto, se mantendo escondida dos olhos de todos na medida do possível. Certa vez, fora se encontrar pessoalmente com Grandma Batt, que lhe olhou diretamente nos olhos e com um sorriso irônico de quem sabia o que fazer, a levou para ficar um tempo na catedral do centro da cidade, a fim de aperfeiçoá-la no culto, pois seu jeito tímido deveria mudar para uma líder religiosa e mais uma vez, a cor rubra de seus olhos seriam perfeitas para sua imagem.

Seus pais não foram contra, na verdade, até acharam que seria o melhor para ela, entregando apenas uma mala com suas roupas e um boneco totalmente costurado e sem um olho que ela usava para dormir a noite.

Os primeiros dias foram com um grupo, onde ela ficava apenas sentada, o mais longe possível dos colegas, que também pareciam um pouco afastados. Lá, um noviço lhes ensinava tudo que seria preciso saber daquela religião e como falar com as pessoas. Faziam alguns jogos a fim de entretê-los e ajudar a se conhecer melhor, assim todos se enturmavam da maneira que conseguiam, menos ela que tinha medo dos colegas e principalmente do noviço, que sempre perguntava o porquê dela usar o manto dentro da aula e de seu rosto de quem não dormia por muito tempo e certamente já vira muita coisa.

Ficavam trancados numa sala na área subterrânea da catedral e uma coisa que chamou a atenção da garota após algumas semanas, fora que dali eles não ouviam som algum, nem da chuva que ocorria quase que o tempo inteiro pela cidade. Tudo ali era silencioso e calmo, onde apenas a voz do noviço era ouvida e qualquer cochicho entre os colegas já os entregavam. Era como uma lavagem cerebral onde tudo que ouviam, dia após dia, era sobre a religião e formas de comportamento.

Quando eram liberados a comer, o noviço mesmo saia da sala e a trancava, demorando algum tempo e retornando com diversas bandejas com um carrinho que tinha tudo que era preciso para um corpo funcionar. Não era uma comida gostosa ou que realmente matasse a fome, mas era nutritiva e isso era o suficiente para eles, que sempre caiam em uma rotina e tornavam-se cada vez mais manipuláveis.

No horário da noite, quando eram levados até a ala onde dormiriam, eram vendados (sendo que recebiam em mãos suas vendas) e levados segurando um a mão do outro, como um grupo que desconhecia seu destino, apesar de já ter um preparo psicológico. Todo dia quando iam dormir e tinham de ficarem cegos por alguns segundos, ela temia ser levada para outro lugar e mais uma vez a sensação de pânico a atingia em cheio.

Chegando no dormitório, o noviço os deixava ali e trancava a porta. Não havia luz no lugar e assim como a sala onde ficavam o dia todo, não havia barulhos e só sabiam que a noite passou quando ouviam o som da chave deslizando pela fechadura a fim de verem aquela figura cadavérica que os levava novamente para a sala. As noites eram mal dormidas, visto que o silêncio tomava conta deles e a penumbra fazia que escolhessem seus lugares rapidamente, mas normalmente juntavam travesseiros e cobertores e dormiam todos juntos no chão, a fim de ter um pouco de afeto e destruir um pouco aquela solidão coletiva que todos certamente sentiam.

Com o tempo, alguns começaram a ficar mais fracos e começavam a sumir do grupo, sendo levados sem que ninguém notasse. Ela sabia que não podia ser durante o momento em que eram vendados, pois alguém notaria que uma mão fora solta e ela ouvia tudo em sua volta, cada passo naquele corredor que ecoava e tinha um som de molhado em cada passada. Somente havia uma forma de serem levados sem serem notados pelos outros alunos, era de madrugada, enquanto todos dormiam.

Algumas noites sem dormir começaram a ocorrer, pois no breu do dormitório, poderia haver alguém mais além deles que nada notariam e mesmo que se chocassem com esse indivíduo extra, não saberiam dizer se era um colega ou não, mesmo que pedissem desculpas (apesar de pouco falarem entre si, pois não tinham motivação ou memórias para serem relatadas sem que os outros já não tivessem passado pelo mesmo).

O noviço fazia que desconhecia a falta dos colegas, mas ninguém ali era obtuso o suficiente para não notar a falta deles, mas logo aprenderam, de acordo com as respostas dele, que era melhor não se preocupar com aquilo, seriam pensamentos desnecessários para a aula e assim, aprenderam a deixar os fracos para trás da pior forma.

Anos se passaram e pesadelos a consumiam quase que todas as noites, fazendo com que ela se tornasse fraca com a medida do tempo. Já estava com catorze anos e se perguntava quase que diariamente quando iria ser liberta de volta para seus pais, dúvidas como essa e se eles estavam fazendo algo para reavê-la também rondavam sua mente, e sua concentração nas aulas começava a se deteriorar aos poucos. Já começava a se vestir com roupas diferenciadas, mas normalmente escolhia por um vestido negro, um resquício de seu psicológico pelo manto que a “protegeu” por tanto tempo.

O noviço olhava bastante para ela durante a aula, como se a vigiasse. Tinha certeza que era por causa das faltas de atenção que cometia, tendo a mente em outros lugares além do que a ensinavam, apesar do sistema deles ser feito para que a pessoa prestasse atenção e vivesse somente daquilo, eventuais falhas humanas ocorriam como distração e estresse. Aquilo só favorecia com que ela piorasse, pois temia ser a próxima a ser levada sem deixar vestígios para seus colegas.

Na noite em que seu desempenho foi o pior, lágrimas escorreram por suas bochechas e ela as tocou, pois desconhecia aquilo e não sabia como lidar com aquela sensação que a aliviava e consumia, mas aos poucos se tornava em algo desesperador, pois começava a se sentir triste e todas suas emoções, seguradas por anos vinham a tona. Abaixou a cabeça e respirou fundo, tentando ao máximo parar com aquilo, sabendo que de nada ajudaria em sua situação. O noviço, manteve sua atenção em passar o conteúdo para eles, ignorando completamente ela e fazia o mesmo os colegas, que aos poucos foram se tornando mais individualistas e ela seria jogada para trás por não aguentar e todos estavam em seus limites, fazendo o melhor para não desaparecerem.

Naquela noite, ela conversou com eles assim que a porta fora trancada, mas muito baixinho enquanto ainda seguravam as mãos uns dos outros para ter certeza de que não haveria um a mais para ouvir. Sabendo de sua situação, ela pediu desculpas a todos ali e desejou sorte a todos, pois certamente ela não mais os veria. Como falha, não sabia se seria liberta ou morta, por todos os anos de treinamento e conhecimento que teve.

Chegaram a um acordo, de que em prol do tempo e tudo que passaram juntos, ela ficaria no meio de um circulo e todos dormiriam ao redor. Ela e mais dois não conseguiam dormir, por medo e ansiedade, enquanto aguardavam que alguém viesse busca-la. De repente, ouviram um barulho como se algo fosse liberado e logo começaram a relaxar e dormir tranquilamente.

Acordara em uma sala escura, onde um holofote ficava piscando em sua direção com uma luz branca enquanto estava amarrada pelos braços, presa com as juntas para baixo e deixando que os ombros recebessem todo o peso do corpo enquanto os pulsos sofriam com as cordas apertadas e com cerdas que a queimavam. A luz era o suficiente para cegá-la, tendo de olhar para o chão e mesmo assim seus olhos ardiam a ponto de começar a lacrimejar, nem conseguia ver se havia alguém em sua volta, mas sabia que não havia chegado ali sozinha ou por livre e espontânea vontade.

Não chorava ou demonstrava medo, apenas irritabilidade e esforço em se livrar daquilo, mesmo que só sentisse mais dor ao tentar tirar as mãos por entre o nó que a segurava. Precisava se soltar a fim de parar de sofrer.

Vendo que ela lutava para sair dali, um homem falou, perguntando se ela sabia o que havia feito. Com os olhos fechados e lacrimejando, ela respondeu apenas que a tirassem dali e então conversariam melhor, estava desarmada e não havia motivo para aquele sofrimento desnecessário. Após alguns segundos de silêncio, fora respondido que ela não estava em posição para fazer exigências e então, ela aquietou-se, segurando a dor e apenas deixando o peso de seu corpo fazer seu trabalho, já que era inútil perder suas forças ali. Era impossível erguer a cabeça e desnecessário, então apenas perguntou o que era possível fazer para sair dali.

Uma chibatada quente fora recebida nas costas e um som de estalo era ouvido enquanto ela mordia o lábio inferior e erguia a cabeça graças à dor. Haviam esquentado um chicote de múltiplas pontas a fim deixar mais brutal, mas ela nada falou, nem ao menos xingou, apenas perguntou o que poderia fazer para sair dali, insistindo. Deram uma segunda e após erguer a cabeça, abriu levemente o olho e aquela luz a fez fechar rapidamente, era impossível ver, tanto pela sensibilidade de seu corpo quanto pelos feixes que confundiam a visão. Aquietou-se mais uma vez e pensou por alguns segundos. Seu coração pulsava rapidamente e o sangue começava a escorrer de suas costas em direção do chão, pingando e ecoando naquela zona fechada.

Resolveu fazer uma coisa rapidamente, perguntou mais uma vez, mas sua voz saiu fraca pois seu corpo já há muito estava cansado e não resistia àquelas chibatadas, mas precisava ser forte para não morrer sendo torturada. Assim que recebeu nas costas, pegou impulso com o corpo e girou, chutou a mão de quem a batia, mas nada mais fora conseguido fazer, apenas seguiu girando mais duas vezes antes da corda retornar.

Um som estranho fora ouvido, como se alguém tivesse achado graça e então, mandaram que tirassem sua roupa. Uma grande mão terminava de rasgar seu vestido com puxões que marcavam sua pele e então, retomaram a bater em seu corpo, agora sem a leve “proteção” que dava os tecidos e dando um dano psicológico pela humilhação que recebia. Agora não davam somente em suas costas, batendo também em sua barriga, seios, rosto e pernas. Cuspiu sangue no chão e mais uma vez, de forma educadamente debochada perguntou o que poderia fazer para sair e como se a resposta fosse diferente, o homem a soqueou no rosto. Seu punho era grande e tinha um impacto poderoso, que a fez girar na corda até arrebentar pela movimentação e caiu no chão, batendo de ombro e depois acertando a cabeça na parede, onde ela sorriu e desmaiou.

Levaram-na a uma solitária, onde lá ficou por cinco dias, recebendo remédios e injeções para controla-la e fazer com que ficasse mais dormindo que acordada. Algo peculiar dentro da solitária, é que havia uma luz bruxuleante, como a de uma vela, que parecia que ficava na frente da porta e isso iluminava fracamente o interior da solitária, onde ela conseguia ver que as paredes e chão eram completamente sujos de sangue, ossos vermelhos ou com manchas negras de carbonização. Além de tais marcas grotescas, havia um boneco de Gepeto sentado próximo a porta que todos médicos que passavam, faziam como se ele não existisse. Ela não podia reagir graças às drogas que era submetida. A fim de não perder a sanidade perante aquela tortura psicológica, fechava seus olhos e preferia dormir ou ficar quieta, independente do que fizessem e obedecia religiosamente cada passo que lhe era mandada.

No sexto dia, ela fora colocada em uma cadeira de madeira e um homem sentou em sua frente. Ele usava um manto negro e não era possível ver seu rosto, somente sua boca com um cavanhaque grosso. Ele ficou um tempo olhando-a, vendo se ela estava ciente da realidade e conversou um pouco com ela, sobre coisas sem sentido, como um amigo distante que resolvia retomar velhos assuntos. Estava com dor de cabeça por causa dos medicamentos, mas fez o possível para responder para ele de forma ciente, avisando-o de tempos em tempos que estava tendo problemas e que não sabia mais quanto conseguiria aguentar, mesmo que ela poderia falar alguma besteira pois não estava em seu melhor.

Vendo que estava mais séria e direta, resolveram vendá-la e mais uma vez, levar para o quarto onde tinha a luz piscante. Lá, ela ficou sentada e não amarrada, enquanto três homens discutiam o destino dela. Falavam abertamente, sem se preocupar se a vítima os ouvisse e chegaram a um consenso: a libertariam, mas dariam como louca e colocariam num barco médico para sair da ilha. Mesmo que ela contasse o que ocorreu, ninguém acreditaria nela. Só a deixaram viver pois por mais que tentassem tortura-la ao extremo, ela demonstrava fazer o possível para se proteger, mesmo que mentalmente e isso os agradava, viveria para ser um experimento.

Colocaram-na em uma camisa-de-força e embarcaram-na em um navio que ia para Firebrick Island, onde ela ficaria internada no hospital local. Era um lugar precário e isso ajudaria em despistar por chamar pouca atenção. Saíram de madrugada e por isso, ninguém daria por vê-los.

Na viagem, ficava o tempo todo sentada em uma cela com uma cama, onde recebia água e comida periodicamente. Os navegadores estavam sempre conversando sobre os destinos, rotas, desvios e formas de aceleração e isso ajudou na recuperação da garota, pois ela distraia a mente com outra coisa, já que tentava compreender e ter uma ideia meio que por cima sobre o que eles estavam falando.

Ninguém conversava com ela e era a única que estava na cela, enquanto descansava o corpo e retomava a ser quem era. Havia passado por tanta coisa e poderia estar realmente louca naquela etapa, mas precisava se segurar em alguma coisa e prestava atenção em outras coisas, como os detalhes da cela. Muitas vezes fora vista falando sozinha sobre a movimentação que o navio fazia ou como era irregular tal pedaço de madeira. Isso só reforçava sua imagem de louca, mas ela estava descrente sobre sua situação, negando seus traumas.

Uma coisa que ninguém comentou foi que havia um navio de pequeno porte que os seguia. Não havia bandeira, apenas era como uma escolta que vinha desde Bone Village e garantiria a segurança até a entrada da nova ilha.

Chegando em Firebrick, o barquinho sumiu de vista, indo para outra costa e a garota fora levada até o pronto socorro local, onde retiraram a camisa-de-força e a deitaram. Um pagé, o Doutor Bid Surusky sentou próximo a ela e começou a conversar, enquanto a menina falava com ele e tinha devaneios, ouvindo coisas que ele não falava e seguindo um monólogo comprido.

Ele anotava suas reações e dava poucas drogas para ela, mais pela área da noite, que ajudavam-na a dormir de forma calma, pois tinha muitos pesadelos em que acordava gritando, ou se debatendo. Bid sabia que ela tinha passado por muitas coisas e fazia seu melhor em ajudar em sua sanidade, aos poucos centralizando sua mente na realidade ou pelo menos fazê-la parar de falar sozinha.

Anos de terapia ocorreram e com vinte e dois anos, ela já estava ajudando no hospital, como uma forma de ajuda-lo (mesmo que seus conhecimentos médicos fossem totalmente inúteis), levando remédios para ele, mas mesmo assim ela tinha um jeito que não se encaixava no local, pois não tinha medo em encarar bandidos mal encarados que apareciam no hospital atrás de drogas e sempre se esforçava quando recebia uma ordem que deveria ser executada rapidamente por qualquer que fosse a emergência.

Usava roupas locais, tendo seus cabelos compridos e roxos amarrados em uma trança comprida, calças jeans e camisa xadrez mais comprida que ficava para fora. De qualquer forma, isso a incomodava, mesmo que tivesse passado oito anos naquela ilha. Diversas vezes seus olhos doíam pela luz solar (que era quase que o oposto em termos de luminosidade, diante de sua ilha natal), já que quase não havia árvores ou prédios grandes para descansar a vista embaixo de uma sombra.

Certo dia, um grupo de homens de terno, óculos escuros e chapéus apareceram lá e pediram para que ela os acompanhasse. Meio indeciso, Bid ficou confuso, mas nada fez, deixando que ela escolhesse por si só, pois ele nada mais era do que um médico e ela já era uma adulta, sabia o que fazer sem ter que ser mandada. Aceitou e os seguiu, tendo uma pistola escondida em suas vestimentas.

Foram até um bar, onde foram juntos até o banheiro. Dois homens adentraram e expulsaram quem estivesse lá e logo todos entraram juntos. Ela já esperava pelo pior e colocou a mão no cabo da arma. Logo, um homem se apresentou com um nome oriental, sendo que ele não tinha características, era como um codinome. Pediu para que ela desse sua naturalidade e contasse um pouco mais do que ocorrera. Falou abertamente de onde vinha, mas não comentou sobre os anos passados na capela do centro da cidade. Os homens ficaram intrigados, pois esperavam por alguma coisa a mais, mas mesmo que fossem diretos, ela não conseguia responder com sinceridade, tendo um bloqueio mental. Sua ignorância perante o caso era tão convincente, pois sua atitude não mudava, que os homens desistiram e sumiram por algum tempo após deixa-la.

Quase um ano depois, ela pegou um navio para Jervan com o dinheiro de pagamento que recebera de Bid. Lá, ela iria querer mudar completamente de vida, tentando tirar de sua mente Bone Village e mesmo, Firebrick Island que ela só chegou a conhecer graças aos ocorridos em sua ilha natal.

Pagou por uma viagem aleatória, onde viveria em qualquer outra ilha, desde que não fossem aquelas duas.

Durante sua viagem, quis ficar no convés a fim de ver o mar. Era incrível e o melhor momento para vê-lo era quando escurecia, pois assim, o reflexo do Sol não batia na água. Por vez ser calmo e a viagem longa, ela ficava muito tempo na superfície do navio. No segundo dia de viagem, algo chamou sua atenção: no horizonte, algo se movimentava sorrateiramente, como se os seguisse. Isso a incomodou e ela logo chamou um mestre de bordo para averiguar se ele não via o mesmo e fora reconhecido que era um barco que os seguia. Logo ele tocou o sino e anunciou por piratas.

Todos os marujos a bordo se armaram de como era possível e pararam o navio, aguardando que os piratas se aproximassem e um combate se iniciasse. O barco, ao notar que fora visto, logo mudou a rota e hastearam uma bandeira branca, que fora anunciado por um homem que ficava no topo do mastro principal com uma luneta. Todos se sentiram aliviados e foram dormir, o mestre de bordo agradeceu a preocupação da garota e logo ela abriu um sorriso, entendendo o medo que os piratas causam na população.

Assim que colocou os pés em Jervan, notou que ali teria de trabalhar duro e logo, procurou um emprego de auxiliar de construção, onde fazia seu melhor em ajudar os trabalhadores, porém, muitos diziam que ela seria ótima para a arena nos andares inferiores.

Seu chefe, um homem grande e gordo que carregava toras embaixo do braço como se fossem palitos, aproximou-se dela e lhe disse que não havia futuro para ela ali, todos queriam vê-la nas arenas, por ser uma mulher e ter um corpo atraente. Recebera uma folga e foram juntos até Umuos, onde ele apresentou o local a ela.

Ficou enojada com a baderna e sujeira que era vista ali, muito diferente de Bone Village que era sempre limpa, mas o céu escuro a agradava. Ele a alistou em uma luta, contra a vontade dela, a fim de ver o potencial atlético da garota e até onde conseguiria lucros em cima do esforço dos outros.

Em sua primeira luta, tinha de vencer um boxeador, onde ele ficava pulando incessantemente e ela desviava na medida do possível ou se defendia dos ataques. Aquela série de pulos o ajudava no ritmo, mas cansava o corpo, ainda mais atacando diretamente. Assim que ele conseguiu coloca-la contra a parede e desferir diversos socos, ela virou o corpo e recebeu muitos golpes nas costas, mas deu uma cotovelada próxima ao esôfago, que fora o suficiente para tirá-lo de combate. Estava toda machucada e dolorida, mas conseguiu vencer o primeiro combate, recebendo em torno de setecentos mil berries para seu chefe, que antes que ele a apostasse em outro combate, ela pediu que ele comprasse armas e uma roupa nova para ela, de forma que ele escolhesse a roupa e ela a arma.

Claro, ele escolheu a mais sensual que achou e ela, preferiu por uma foice, não sabia dizer o porque, talvez pela imagem da morte com uma arma daquelas, que automaticamente relembrava sua vila. Por mais que ela fizesse força em esquecer, ela sabia que estava atada às trevas do passado.

Logo, ela pediu para se trocar e levou sua arma junto, trocou de roupa, deixou como pagamento a sua antiga e fugiu dos olhos do homem, que agora tinha perdido uma trabalhadora. Ele era chefe do setor em que ela trabalhava, mas não tinha poderes o suficiente para organizar uma caçada atrás da garota, fazendo com que ela ficasse simplesmente a própria sorte.

Sozinha, em uma cidade escura e violenta, tendo apenas uma foice em mãos e sua sorte, ela começava sua jornada para fora de Umuos, Jervan.