Não nasceu como uma pessoa rica, mas pelo menos tinha uma casa de dois andares farta de pequenos luxos, com várias irmãs delicadas tratadas igualmente e pais que faziam de tudo para o bem estar da menina.
Sua mãe era uma geisha profissional que trabalhava na cidade a noite junto das irmãs mais velhas e seu pai era cozinheiro de dia. Fazia de tudo, para coisas pequenas para os mais pobres e grandes mesas fartas para pessoas que tinham muito dinheiro, sendo contratado por qualquer um sem distinção. Tudo dependia de sua quantia de pagamentos e o que poderia ajudar com o local.
A vida era basicamente rodeada no meio do serviço de todos e nada se podia fazer. Seu destino já estava previsto como ela, um dia, fazer parte do esquadrão de artistas de sua mãe. Não contratavam pessoas e nem procuravam, somente as da casa eram necessárias, visto que nenhuma irmã trairia a outra.
Desde pequena era ensinada na mesma arte de diversão que suas irmãs, e ela era a mais nova, logo, passava mais tempo brincando com as outras do que aprendendo. Algumas viam como um descanso ensiná-la já que acabavam rindo e aos poucos Kagami ia aprendendo o que tinha que fazer. Sua mãe sempre a cuidou com carinho junto das irmãs, nunca tiveram que ser grossas com a menina. Todos eram bem humorados.
Quando o pai chegava, era a alegria de todas. O homem abraçava cada uma (se quando todas já não o abraçavam) e após uns momentos de conversa, ia preparar uma comida gostosa para todas. Ele parecia que não se cansava de trabalhar, pois após o dia todo fazendo seu dever, ainda fazia mais em casa. Às vezes a família ficava toda reunida na cozinha conversando e preparando o que iam apreciar.
No total eram nove irmãs e um irmão que era o mais velho e pegou uma espada para se tornar um samurai de um templo. Kousetsu (irmã mais velha, de 21 anos que se vestia vulgarmente), Bukyoku (de 19 e era a melhor nas artes da dança), Oshaberi (de 18 e como ninguém, sabia ouvir e puxar assuntos com seus clientes, sempre conseguindo informações ótimas), Hika (de 16, que sempre gostou de cantar enquanto os homens trabalhavam, sendo extremamente relaxante ouvi-la), Kaisha e Shinkou (gêmeas de 15 que cuidavam da parte social, indo a qualquer lugar – até os mais sujos), Rankou (de 14, a gênia da família, sendo ótima em qualquer coisa), Ryuuzan (de 13, ela era a que mais tinha problemas em aprender tudo) e Taketo (de 17, foi embora com apenas uns trocados e uma katana afiada) são os irmãos da pequena Kagami.
Com doze anos, já sabia como agradar seus clientes com danças ou apenas sendo uma companhia para um compromisso, fazendo com que sua mãe já a colocasse junto para trabalhar no local.
Não era nada do que a pequena imaginava. Realmente grande e com diversos quartos, talvez no passado ali tivesse sido um hotel ou alguma hospedaria semelhante. Para chegar até lá tinha que subir por uma pequena escadaria que levava a uma porta de vidro e assim, uma das irmãs abriria a porta ao ver movimento do lado de fora e acompanharia o cliente cansado para um local onde pudesse beber e ter um pouco de diversão sem ter que pensar em seus problemas.
Sendo completamente iniciante naquilo, ela apenas conseguiu seguir na carreira por saber dançar delicadamente e como era criança ainda, era extrovertida e sabia como agradar seus clientes.
Atendia regularmente com algumas indicações das irmãs, pequenas dicas espertas para saber o que fazer.
Sua vida era fácil e sua presença no meio dos familiares foi algo que tornava os negócios muito mais fáceis de fazer, independente de seus erros. Sua mãe nunca foi uma pessoa rígida. Sempre tinha um jeitinho especial dela com Kousetsu para se desculpar os problemas ocasionados.
Alguns anos se passaram e agora ela já tinha 16 anos, sabendo lidar com qualquer tipo de problema na casa. Sua virgindade ainda não foi retirada e agora estava em leilão para que fosse vendida como a mais cara da família (já que era tão nova e sabia tão bem trabalhar).
Toda noite ocorria um pequeno leilão de uma hora com cortesias das irmãs e comidas preparadas pelo pai que eram dadas a clientela para que tivesse o que petiscar enquanto via se estava dentro de seu orçamento disputar contra homens de cargo alto em busca da pequena Kagami.
Em uma semana tudo estaria pronto se não fosse pelo fato da garota ter morrido enquanto voltava para casa e um homem a apunhalou na barriga e a estuprou. Foi um jeito fácil de tirar a virgindade da pequena, mas o que ele não soube é que isso fez o local fechar, visto que não demonstrou segurança e a grande quantia em dinheiro que iria arrecadar com o corpo da menina foi desfeita e assim, a família teve que se mudar para outro local.
Não viveu por muito tempo como uma alma acorrentada ao nada e logo foi levada para longe graças a um cabo de uma espada em sua testa que agravou um ideograma que obviamente a menina não conseguia ver e assim, despertou em Rukongai onde algumas almas de lá a ajudaram.
Como era moça trabalhadora na área da arte e da hospitalidade, serviu por alguns anos a família que a acolhera para ter moradia e comida de graça.
Sua beleza era rica e alguns moradores do local tentavam se assanhar para ela, mas muitas vezes (quando não conseguia se defender) os donos ou ajudantes dos donos a ajudavam a expulsar os agressores. Que retornavam depois de um tempo pela qualidade do local ou simplesmente pelo ar de pureza que a menina emanava em seus toques delicados e movimentos sutis.
Começou a trabalhar na cozinha para não criarem alguma fama ruim e assim, ela começou a fazer a comida de todos e quem entregava eram os donos ou outros trabalhadores como ela.
Dormia em locais preparados para os funcionários e nunca teve problemas com eles. Claro, tinham alguns que a queriam, mas temiam muito os donos ou de perderem seus empregos e terem o triste destino de ficar vagando sorrateiramente por aí até conseguir um novo trabalho ou local onde pudessem comer de graça.
Suas almas não precisavam de alimentos já que nunca estavam com fome, mas era bom sentir o gosto e só por isso, eles comiam. O que ninguém sabia, é que no meio disso tudo, Kagami desenvolveu uma fome verdadeira pelos alimentos que preparava e pegou o péssimo hábito de molhar o dedo na comida e prová-la antes de entregá-la para ser enviada ao cliente faminto.
Certo dia foi pega no flagra e nada podia fazer além de admitir. Acharam estranho uma pessoa como ela que fazia todas as ordens fielmente e sem reclamar, do nada, cometendo tal ato de negligência e assim, foi demitida para que vagasse desprotegida pelas ruas daquele distrito.
Vagava por aí procurando alimentos, resolveu se afastar da cidade para ter uma segurança melhor longe de todos. Mas a fome era forte e ela não conseguia passar muito tempo naquele estado até que desmaiou.
Acordou no colo de um homem vestido de preto que a carregava nas costas. Completamente confusa, ela pergunta o porque dele fazer aquilo e ele disse que a achou interessante. Nada mais normal, o problema tava no fato dele querer tirar sua virgindade ou matá-la para vender seus órgãos. De nada sabia que aquele homem era um shinigami e um protetor.
Um pouco envergonhada, pediu algo para comer e foi recebida com pão, queijo e água. Era o bastante para se alimentar já que antes era na base do nada. Não precisava mais ficar procurando por migalhas ou árvores com frutas comestíveis nos arredores da cidade.
Mas o que ela não ainda tinha se perguntado, era onde estava e assim que notou isso, perguntou que local era aquele. Com um sorriso no rosto, o homem a respondeu dizendo que era a academia onde ela iria treinar e não precisar ficar mendigando por aí como antes fazia ou procurando um emprego que faria um trabalho em troca de uma moradia não muito fixa.
Treinava e estudava separadamente, recebendo conselhos para melhorar e formas de combate. Lutava muito para passar e nunca se importou muito em fazer aquelas coisas, mesmo que fosse contra sua vontade. Via novamente como um treinamento e assim, relembrando de sua família.
Em um dia, quando treinava duro com um colega um ano mais avançado, ela foi colocada no canto da arena facilmente e mal conseguia contra-atacar. Era época de provas e assim, tinha de vencer o rapaz para assim poder evoluir um pouco mais academicamente, só que não conseguia se erguer... até que chamou pelo nome de sua zanpakutou.
Falou alto, como se pedisse ajuda e foi a primeira vez que ela se exaltou na frente de todos. Sua espada se comprimiu e todos a olharam esperando ver como era a arma da gênio que liberou sua zanpakutou ainda na academia, mas o que fez com que muitos saíssem, foi o fato de que a arma virou um verme nojento que fez a garota soltar um grito e cair para trás, sacudindo o braço.
Suas notas subiram muito, apesar de ter perdido o combate por puro nojo de sua arma e assim, foi garantida a fazer os últimos testes.
Começou a usar proteções nos braços para não sentir o toque gélido daquele ser que surgia grudado em sua mão no momento da liberação e incrivelmente, isso divertia sua arma. Apareciam para ela durante a noite enquanto dormia e conversavam, sempre tentando tocá-la com suas peles gosmentas e assim, teve muitos pesadelos durante algum tempo.
Sua passagem até os últimos dias na academia foram simples e assim, não teve grandes preocupações (exceto pelo problema de sua zanpakutou ao gostar de vê-la chorando de desgosto ao ser tocada) e no teste de combate que iria levá-la a aprovação, seu oponente foi um dos avaliadores. Já que ela tinha shikai, teria que lutar contra alguém realmente forte para ser um desafio.
Aconteceu o mesmo que o anterior, só que dessa vez, liberou seu shikai e usou o poder para vencer. A saliva da criatura era venenosa e assim, a vitória foi concedida para ela, se formando e virando finalmente uma shinigami.
A imagem que todos começaram a ter dela por toda a Seireitei não era mais de uma garota adorável e trabalhadora, e sim de uma menina com uma nojeira no braço, criando assim, certa discriminação pelos outros com ela e dificultando a criação de laços com seus companheiros.
Aos poucos ia diminuindo sua importância. Em missões tinha nojo de sua arma (abrindo assim sua defesa), tinha medo de cortar os inimigos e ver o sangue escorrendo e talvez a pior, ia sempre contra a decisão de todos.
Para que se enquadrasse, fora mandada a treino com a soutaichou para que aprendesse um pouco de técnica e disciplina.
Os combates eram rápidos e os treinos difíceis, moldando indiretamente a personalidade da garota que agora começava a falar menos e se esforçar mais. Proteções maiores nos braços e melhor controle de shikai.
Treinou diretamente por alguns anos com a mulher e até que foi liberada sem saber o motivo diretamente para a oitava bantai aos cuidados de Hiruma. Só cabia a ele a saber o que fazer com a garota que após muito treino teve o controle de seu bankai, mas apenas aquela mulher sabia da existência dele.
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Kouun Karasu, ao seu Dispor
A vida humana de Karasu foi curta. Nasceu na periferia de Londres e chamava-se Oscar Mountbatten. Seus pais, Lucius e Joan, eram muito apaixonados e o receberam com carinho, porém, tinham muito pouco dinheiro e faziam cada vez mais sacrifícios para criá-lo com um mínimo de saúde. Pelas condições precárias em que vivia, Oscar era um menino fraco, mas se mantinha com o possível e logo atingiu idade suficiente para ajudar o pai no trabalho, confeccionando artigos de couro artesanais. Sua maior diversão era contar suas “aventuras” para a mãe, quando voltava cansado do trabalho e as longas lições da escola, sempre exagerando um pouco para aumentar o suspense.
Pouco depois de fazer 10 anos, teve os primeiros sintomas de uma instabilidade que lentamente atingia sua mente: sua mãe morre, atropelada quando corria para parabenizá-lo na saída da loja do pai por manter ótimas notas, mesmo trabalhando no turno oposto; a cena, ocorrida na sua frente, deixa o garoto em um estado de choque que o faz correr até onde estava a mãe, de forma quase inconsciente, ignorando os adultos que tentavam afastá-lo daquele horror, protegê-lo; ele aproxima-se do corpo ensangüentado, seu corpo treme de ponta a ponta, ajoelha-se ao lado da mãe e beija sua testa com muito carinho. Seu pai aproxima-se por trás, e tenta puxá-lo para si, abraçá-lo, consolá-lo de alguma forma, mas o filho o afasta, movimentando no ar a faca que usava para cortar o couro, que estivera em seu bolso. Após alguns segundos de tensão em que todos observam a criança com a faca, o pequeno abaixa-se mais uma vez sobre o cadáver ainda quente da mãe e corta-lhe a orelha. Ele guarda o pequeno pedaço em um retalho de couro que possuía consigo, sem preocupar-se com o sangue que escorria da ferida que recém abrira, e sai do meio da multidão de observadores chocados com a atitude que tomara, dirigindo-se ao seu quarto.
Oscar faz um pequeno altar para a orelha cortada da mãe, trabalhando em couro e madeira uma cestinha que enche de grama, para formar uma superfície fofa e de aparência delicada onde colocá-la. Oscar torna-se mudo para todos, e tanto seu pai quanto os professores e colegas preocupam-se com o trauma que havia sofrido, pensando ser melhor dar tempo a ele, tratá-lo com o máximo de cuidado; o garoto não dizia nada, mesmo quando lhe dirigiam uma pergunta das mais simples, como o que gostaria de jantar; alimentava-se pouco, não sorria nunca. Uma noite, mais ou menos três meses após o acidente e nenhuma palavra proferida pelo garoto, Lucius, desesperado, vai procurá-lo em seu quarto com a intenção de não sair de lá até obter um desabafo do garoto. Enquanto aproxima-se do corredor, pode ouvir a voz de Oscar, alegre como nunca mais esperava ouvir; de fato, o volume de felicidade naquela voz chegava a ser anormal, em um tom que dava arrepios ao velho pai enquanto esse tentava entender o que dizia. Chegando a quase encostar o ouvido na porta, mas não se atrevendo a fazê-lo, com medo de que a madeira velha apenas encostada cedesse ao menor toque seu, percebe que o garoto falava de fatos absolutamente casuais, como se conversasse com alguém, contando histórias que vivera – e que o pai sabia não serem suas, mas meras invenções da imaginação de uma criança – naquele dia ou nos tempos recentes.
Perguntando-se se o filho havia recebido visitas sem que percebesse, mas principalmente muito aliviado de apensa poder ouvi-lo falar novamente, o pai abre a porta.
A visão que tem é uma que Lucius jamais esperava encontrar, acompanhada de um cheiro de podridão que já havia sentido levemente no quarto do garoto, mas nunca tão forte e nauseante, vindo obviamente de uma prateleira à frente do seu filho que se sentava com um sorriso que não podia ser descrito de outra forma que não psicótico. O objeto sobre a prateleira, que provavelmente estivera escondido durante as outras vezes em que esteve no quarto, era o mesmo que ele havia ordenado que a criança jogasse fora logo após a dolorosa morte de sua esposa, a orelha de Joan, cuidadosamente colocada em uma pequena cestinha, já semi-deteriorada.
- Olá papai, que bom que pode vir, mamãe estava com saudades. Faz dias que ela está querendo falar com você, mas ficou com medo de que não a aceitasse como está agora, e pediu pra que eu a escondesse de você. Eu estava contando a ela tudo o que fiz hoje.
Lucius estava pálido, chocado de ver o filho em uma situação muito pior justamente quando achou que ele estava superando. Seria por isso que não falava com mais ninguém? Agora falava apenas com aquela... coisa? E agia como se, de alguma maneira, conseguisse ouvi-la também. Rapidamente Lucius alcança o centro do pequeno quarto, estende a mão para o objeto repugnante, agarrando a cestinha com a mão direita e segurando o filho, que se debatia para mantê-lo longe da sua mãe, pois pressentia que o pai pretendia feri-la com a esquerda. Tranca a porta do quarto com o filho dentro e leva o objeto consigo em direção a um riacho próximo, tencionando jogá-lo lá. Em seu nervosismo, esquece-se de trancar a janela, pela qual a criança sai e corre em seu encalço, gritando que largasse sua mãe, chamando-o de assassino e pedindo por ajuda de todos que pudessem ouvi-lo. As poucas pessoas que ainda andavam por aquela região, conhecendo a história da criança, apenas o olhavam com expressões de pena, seguindo suas tarefas.
Correndo, com obstinação alucinada, consegue alcançar o pai que caminhava com passos tremidos à sua frente. Os dois disputam pela cesta próximos à beira do riacho, mas a força do homem adulto ainda era infinitamente maior, e ele acaba por desvencilhar-se da criança. Em uma última tentativa desesperada de salvar o pedaço restante de sua mãe, Oscar lança-se atrás dele, espichando os bracinhos e aproximando-se ao máximo da beira do riacho; aproxima-se demais e, tropeçando, cai na água. O pai atira-se atrás dele, mas em vão. Vasculha o riacho, desde onde havia caído o garoto até onde este desaguava em uma lagoa maior, e busca tanto quanto pode nessa lagoa. A única coisa que encontra, levada para a borda pela correnteza, é a orelha semi-desintegrada da esposa, já sem sua cestinha feita sob medida.
Oscar realmente havia morrido afogado, e seu corpo fora lançado pela correnteza em direção à lagoa, indo repousar em seu fundo, a poucos centímetros de onde parara sua cestinha. Não descobre o destino que teve seu pai, pois é logo encontrado por um shinigami e enviado á soul society.
No mundo espiritual, nasce como o filho único de uma família de nobres antiga, agora falidos (não adianta, o destino não quis que ele nadasse na grana) e longe do auge de sua glória. Não é preciso dizer que foi criado para ser o restaurador dessa glória, um peso com o qual ainda não sabe lidar, tendo medo de não ser forte e capaz o suficiente, mas é uma das razões pelas quais se esforça ao máximo em todas as missões e treinos aos quais é enviado.
Seus pais nesse mundo são Kouun Zyuugin, ex-shinigami aposentado por invalidez após perder o braço da katana, de quem herdou a cor da pele e dos cabelos e com quem aprendeu as primeiras noções da luta com espadas; e Kouun Hebishiruku, uma mulher de pele morena e olhos da cor dos do filho, sobre a qual ninguém sabia nada a respeito quando chegou na região e logo deixou Zyuugin apaixonado. Após o nascimento de Karasu, Hebishiruku desaparece novamente e jamais volta, deixando a criação da criança para o pai e os avós. Deixa também para trás a fita rosada com que prendia os longos cabelos negros cacheados, que passa a ser usada pelo filho quando esse também deixa seu cabelo crescer.
Passa bastante tempo de sua infância com os avós, que gostava de ouvir contarem histórias, o que logo o leva a gostar também de lê-las sozinho. Eles chamam-se Kouun Baishunfu e Kouun Aokin e foram ambos shinigamis no seu tempo, incentivando o pequeno Karasu com histórias de vitórias fantásticas e a proteção dos que deles precisam. Cresce de um bebê fofo para um jovem belíssimo, o que é sempre lembrado por seus avós, sua aparência de uma delicadeza atraente sendo apelativa não apenas ao sexo oposto.
Karasu é enviado à academia logo que tem idade, e é um dos primeiros da turma, sempre buscando ser o melhor. Nunca chegou a ter uma namorada, pois está sempre muito concentrado nos estudos, apesar de as suas colegas costumarem atirar-se sobre ele com freqüência (ele percebe, mas não considera importante), e mesmo com seus amigos não sai frequentemente, apenas quando esses insistem que não é certo ficar trancado em casa no ano novo ou em seu aniversário. Pela falta de costume, é muito fraco com bebida, o que lhe rendeu voltar para casa no ombro dos colegas em quase todas dessas ocasiões.
A pressão para que seja um shinigami exemplar torna-o obsessivo pelos estudos, fazendo com que Karasu seja incapaz de passar reto por uma biblioteca, ou mesmo um livro largado sobre qualquer superfície, sem ser impelido a pegá-lo e começar a ler; caso conheça alguém capaz de ensiná-lo algo que o deixará mais forte, fará de tudo para que essa pessoa concorde em passar a ele seus conhecimentos. O nervosismo e ansiedade também acabam por torná-lo impulsivo com seu cabelo. A qualquer momento, às vezes nas horas mais impróprias (especialmente quando alguma situação o deixa ansioso), desamarra a fita e o prende novamente com mais firmeza, tomando muito cuidado para manter reta e bem arrumada a fita da mãe. Gradua-se com mérito no tempo certo e dirige-se à sua bantai com o sonho de cumprir o desejo de seu pai e honrar o nome dos Kouun.
Pouco depois de fazer 10 anos, teve os primeiros sintomas de uma instabilidade que lentamente atingia sua mente: sua mãe morre, atropelada quando corria para parabenizá-lo na saída da loja do pai por manter ótimas notas, mesmo trabalhando no turno oposto; a cena, ocorrida na sua frente, deixa o garoto em um estado de choque que o faz correr até onde estava a mãe, de forma quase inconsciente, ignorando os adultos que tentavam afastá-lo daquele horror, protegê-lo; ele aproxima-se do corpo ensangüentado, seu corpo treme de ponta a ponta, ajoelha-se ao lado da mãe e beija sua testa com muito carinho. Seu pai aproxima-se por trás, e tenta puxá-lo para si, abraçá-lo, consolá-lo de alguma forma, mas o filho o afasta, movimentando no ar a faca que usava para cortar o couro, que estivera em seu bolso. Após alguns segundos de tensão em que todos observam a criança com a faca, o pequeno abaixa-se mais uma vez sobre o cadáver ainda quente da mãe e corta-lhe a orelha. Ele guarda o pequeno pedaço em um retalho de couro que possuía consigo, sem preocupar-se com o sangue que escorria da ferida que recém abrira, e sai do meio da multidão de observadores chocados com a atitude que tomara, dirigindo-se ao seu quarto.
Oscar faz um pequeno altar para a orelha cortada da mãe, trabalhando em couro e madeira uma cestinha que enche de grama, para formar uma superfície fofa e de aparência delicada onde colocá-la. Oscar torna-se mudo para todos, e tanto seu pai quanto os professores e colegas preocupam-se com o trauma que havia sofrido, pensando ser melhor dar tempo a ele, tratá-lo com o máximo de cuidado; o garoto não dizia nada, mesmo quando lhe dirigiam uma pergunta das mais simples, como o que gostaria de jantar; alimentava-se pouco, não sorria nunca. Uma noite, mais ou menos três meses após o acidente e nenhuma palavra proferida pelo garoto, Lucius, desesperado, vai procurá-lo em seu quarto com a intenção de não sair de lá até obter um desabafo do garoto. Enquanto aproxima-se do corredor, pode ouvir a voz de Oscar, alegre como nunca mais esperava ouvir; de fato, o volume de felicidade naquela voz chegava a ser anormal, em um tom que dava arrepios ao velho pai enquanto esse tentava entender o que dizia. Chegando a quase encostar o ouvido na porta, mas não se atrevendo a fazê-lo, com medo de que a madeira velha apenas encostada cedesse ao menor toque seu, percebe que o garoto falava de fatos absolutamente casuais, como se conversasse com alguém, contando histórias que vivera – e que o pai sabia não serem suas, mas meras invenções da imaginação de uma criança – naquele dia ou nos tempos recentes.
Perguntando-se se o filho havia recebido visitas sem que percebesse, mas principalmente muito aliviado de apensa poder ouvi-lo falar novamente, o pai abre a porta.
A visão que tem é uma que Lucius jamais esperava encontrar, acompanhada de um cheiro de podridão que já havia sentido levemente no quarto do garoto, mas nunca tão forte e nauseante, vindo obviamente de uma prateleira à frente do seu filho que se sentava com um sorriso que não podia ser descrito de outra forma que não psicótico. O objeto sobre a prateleira, que provavelmente estivera escondido durante as outras vezes em que esteve no quarto, era o mesmo que ele havia ordenado que a criança jogasse fora logo após a dolorosa morte de sua esposa, a orelha de Joan, cuidadosamente colocada em uma pequena cestinha, já semi-deteriorada.
- Olá papai, que bom que pode vir, mamãe estava com saudades. Faz dias que ela está querendo falar com você, mas ficou com medo de que não a aceitasse como está agora, e pediu pra que eu a escondesse de você. Eu estava contando a ela tudo o que fiz hoje.
Lucius estava pálido, chocado de ver o filho em uma situação muito pior justamente quando achou que ele estava superando. Seria por isso que não falava com mais ninguém? Agora falava apenas com aquela... coisa? E agia como se, de alguma maneira, conseguisse ouvi-la também. Rapidamente Lucius alcança o centro do pequeno quarto, estende a mão para o objeto repugnante, agarrando a cestinha com a mão direita e segurando o filho, que se debatia para mantê-lo longe da sua mãe, pois pressentia que o pai pretendia feri-la com a esquerda. Tranca a porta do quarto com o filho dentro e leva o objeto consigo em direção a um riacho próximo, tencionando jogá-lo lá. Em seu nervosismo, esquece-se de trancar a janela, pela qual a criança sai e corre em seu encalço, gritando que largasse sua mãe, chamando-o de assassino e pedindo por ajuda de todos que pudessem ouvi-lo. As poucas pessoas que ainda andavam por aquela região, conhecendo a história da criança, apenas o olhavam com expressões de pena, seguindo suas tarefas.
Correndo, com obstinação alucinada, consegue alcançar o pai que caminhava com passos tremidos à sua frente. Os dois disputam pela cesta próximos à beira do riacho, mas a força do homem adulto ainda era infinitamente maior, e ele acaba por desvencilhar-se da criança. Em uma última tentativa desesperada de salvar o pedaço restante de sua mãe, Oscar lança-se atrás dele, espichando os bracinhos e aproximando-se ao máximo da beira do riacho; aproxima-se demais e, tropeçando, cai na água. O pai atira-se atrás dele, mas em vão. Vasculha o riacho, desde onde havia caído o garoto até onde este desaguava em uma lagoa maior, e busca tanto quanto pode nessa lagoa. A única coisa que encontra, levada para a borda pela correnteza, é a orelha semi-desintegrada da esposa, já sem sua cestinha feita sob medida.
Oscar realmente havia morrido afogado, e seu corpo fora lançado pela correnteza em direção à lagoa, indo repousar em seu fundo, a poucos centímetros de onde parara sua cestinha. Não descobre o destino que teve seu pai, pois é logo encontrado por um shinigami e enviado á soul society.
No mundo espiritual, nasce como o filho único de uma família de nobres antiga, agora falidos (não adianta, o destino não quis que ele nadasse na grana) e longe do auge de sua glória. Não é preciso dizer que foi criado para ser o restaurador dessa glória, um peso com o qual ainda não sabe lidar, tendo medo de não ser forte e capaz o suficiente, mas é uma das razões pelas quais se esforça ao máximo em todas as missões e treinos aos quais é enviado.
Seus pais nesse mundo são Kouun Zyuugin, ex-shinigami aposentado por invalidez após perder o braço da katana, de quem herdou a cor da pele e dos cabelos e com quem aprendeu as primeiras noções da luta com espadas; e Kouun Hebishiruku, uma mulher de pele morena e olhos da cor dos do filho, sobre a qual ninguém sabia nada a respeito quando chegou na região e logo deixou Zyuugin apaixonado. Após o nascimento de Karasu, Hebishiruku desaparece novamente e jamais volta, deixando a criação da criança para o pai e os avós. Deixa também para trás a fita rosada com que prendia os longos cabelos negros cacheados, que passa a ser usada pelo filho quando esse também deixa seu cabelo crescer.
Passa bastante tempo de sua infância com os avós, que gostava de ouvir contarem histórias, o que logo o leva a gostar também de lê-las sozinho. Eles chamam-se Kouun Baishunfu e Kouun Aokin e foram ambos shinigamis no seu tempo, incentivando o pequeno Karasu com histórias de vitórias fantásticas e a proteção dos que deles precisam. Cresce de um bebê fofo para um jovem belíssimo, o que é sempre lembrado por seus avós, sua aparência de uma delicadeza atraente sendo apelativa não apenas ao sexo oposto.
Karasu é enviado à academia logo que tem idade, e é um dos primeiros da turma, sempre buscando ser o melhor. Nunca chegou a ter uma namorada, pois está sempre muito concentrado nos estudos, apesar de as suas colegas costumarem atirar-se sobre ele com freqüência (ele percebe, mas não considera importante), e mesmo com seus amigos não sai frequentemente, apenas quando esses insistem que não é certo ficar trancado em casa no ano novo ou em seu aniversário. Pela falta de costume, é muito fraco com bebida, o que lhe rendeu voltar para casa no ombro dos colegas em quase todas dessas ocasiões.
A pressão para que seja um shinigami exemplar torna-o obsessivo pelos estudos, fazendo com que Karasu seja incapaz de passar reto por uma biblioteca, ou mesmo um livro largado sobre qualquer superfície, sem ser impelido a pegá-lo e começar a ler; caso conheça alguém capaz de ensiná-lo algo que o deixará mais forte, fará de tudo para que essa pessoa concorde em passar a ele seus conhecimentos. O nervosismo e ansiedade também acabam por torná-lo impulsivo com seu cabelo. A qualquer momento, às vezes nas horas mais impróprias (especialmente quando alguma situação o deixa ansioso), desamarra a fita e o prende novamente com mais firmeza, tomando muito cuidado para manter reta e bem arrumada a fita da mãe. Gradua-se com mérito no tempo certo e dirige-se à sua bantai com o sonho de cumprir o desejo de seu pai e honrar o nome dos Kouun.
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